Gestão dos recursos humanos é maior preocupação na área da saúde

Açores/Eleições

30 de set. de 2020, 08:19 — Lusa/AO Online

A pouco menos de um mês das eleições regionais, que se realizam em 25 de outubro, a agência Lusa questionou as ordens dos Médicos e dos Enfermeiros, bem como a Secretaria Regional da Saúde sobre o que falta fazer neste setor nos Açores.Para a Ordem dos Enfermeiros, o problema é claro: é preciso investir no “aumento dos recursos humanos, nomeadamente dos enfermeiros, na melhoria do equipamento que existe no terreno e na aquisição de outros, e em potenciar o atendimento a tempo e horas à população”, defende o presidente da secção regional da ordem, Pedro Soares.Já para a Ordem dos Médicos, o problema não é tanto a quantidade, mas a maneira como esses recursos são geridos, ainda que admita que é “importante completar a cobertura da população de medicina geral e familiar” e que é necessário “conseguir fixar jovens especialistas” no arquipélago, afirma a presidente da secção regional.Nesse sentido, é imperativo que haja “um plano estratégico para a cobertura de especialistas nas várias áreas médicas e nas várias unidades de saúde”, considera Isabel Cássio.A médica sugere, por isso, mais diálogo “entre os três hospitais, nomeadamente no intercâmbio de médicos”.Reconhecendo a importância dos recursos humanos, a secretária regional da Saúde, Teresa Luciano, refere que o Serviço Regional de Saúde cresceu em “cerca de 300 profissionais de saúde, em quatro anos, nas nove ilhas”.A governante adianta que, com as cinco vagas de medicina geral e familiar que estão a concurso na ilha Terceira, a região vai “chegar à cobertura total” nos cuidados primários.“Neste momento, quase 230 mil utentes têm médico de família”, afirmou, esclarecendo que, assim que terminar o processo concursal, que já passou a fase da entrevista e agora aguarda o cumprimento “dos prazos legais”, “administrativamente, todos os açorianos terão médico de família”, uma conta que é feita dividindo o “número de médicos de medicina geral e familiar pelo número de açorianos”.Ainda assim, o executivo vai “abrir mais algumas vagas de medicina geral e familiar porque, se houver alguns médicos que estejam a pensar em reformar-se, assim faz-se um reforço” que poderá permitir “reduzir o número de pessoas nas listas e fazer mais programas transversais, como de domicílio, [cuidados] paliativos, saúde escolar”.Mas a visão da Ordem dos Enfermeiros não é tão otimista como a da responsável pela tutela.“A nível de enfermagem, a grande preocupação baseia-se muito no número de profissionais no terreno”, avança Pedro Soares, referindo que “é necessária a contratação e, acima de tudo, haver algum tipo de contrapartida para a alocação destes recursos nas ilhas mais pequenas”.“A evolução não está a ser feita ao mesmo tempo em todas as ilhas e isso causa algumas assimetrias. Se é verdade que nas ilhas onde os hospitais existem há outras condições, também é verdade que não pode haver hospitais em cada ilha. Agora, também é verdade que temos de dar condições a todos os açorianos para que tenham uma acessibilidade igual aos cuidados de saúde”, prossegue.O representante desta ordem profissional alerta para o problema da emigração dos enfermeiros formados na região e para “situações que desmotivam tanto os que já exercem as suas funções, como os novos que chegam agora à profissão”.Pedro Soares concretiza, explicando que “um enfermeiro com 20 anos de serviço, neste momento, recebe o mesmo ordenado que um enfermeiro que acabe o curso no dia de hoje”, enquanto para quem está a começar “são poucas as contratações efetivas, aquilo que acontece são prolongamentos dos programas ocupacionais, nomeadamente o famoso Estagiar L”.Sobre esta matéria, a secretária regional afirma que os Açores têm “o maior rácio de enfermeiros em relação ao continente ou à Madeira” e que, não só “a região tem aberto concursos para enfermeiros num número muito elevado”, como, “neste ano de 2020, também será aberto, a muito curto prazo, um número relativamente elevado de vagas para o quadro”.A classe dos enfermeiros e a dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica estão ambas em luta pela contabilização do tempo de serviço e pela valorização remuneratória adjacente à transição para uma nova carreira.Questionada sobre esse assunto, a secretária regional voltou a afirmar que o Governo dos Açores está “a fazer tudo o que é feito relativamente a valorizações remuneratórias e transição para a nova carreira”, lembrando que, “no caso concreto dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica (TSDT), como já foi afirmado, este mês de setembro, tal como aos enfermeiros, serão pagas todas as valorizações remuneratórias”.No caso específico dos TSDT, essa valorização vai ser feita com a atribuição de um ponto por ano de serviço, quando os profissionais reivindicavam que fosse feita a 1,5 pontos.As próximas eleições para o parlamento açoriano decorrem em 25 de outubro.Nas anteriores legislativas açorianas, em 2016, o PS venceu com 46,4% dos votos, o que se traduziu em 30 mandatos no parlamento regional, contra 30,89% do segundo partido mais votado, o PSD, com 19 mandatos, e 7,1% do CDS-PP (quatro mandatos).O BE, com 3,6%, obteve dois mandatos, a coligação PCP/PEV, com 2,6%, um, e o PPM, com 0,93% dos votos expressos, também um.O PS governa a região há 24 anos, tendo sido antecedido pelo PSD, que liderou o executivo regional entre 1976 e 1996.