Fundação Champalimaud quer aumentar deteção precoce do cancro Mesotelioma associado ao amianto
3 de jun. de 2024, 10:12
— Lusa/AO Online
Em
comunicado, a fundação refere que “o programa começa com as primeiras
três de um total de 200 pessoas já identificadas pela Associação SOS
Amianto”, que foram expostas à substância (fibras minerais naturais,
extraídas a partir de rochas) “nas Fábricas de Fibrocimento de Portugal,
desde a década de 60 do século XX”.Numa
“abordagem inovadora”, o Programa de Diagnóstico Precoce do MPM
utilizará o método de análise de metabolitos (produto do metabolismo de
uma determinada molécula ou substância) voláteis no ar exalado da
respiração, com recurso ao sopro, que será depois complementado com uma
TAC (tomografia axial computorizada) torácica de baixa dose. “Esta
abordagem não invasiva permitirá identificar padrões de compostos
voláteis orgânicos que podem corresponder a perfis típicos da doença,
tornando o rastreio possível e o diagnóstico mais preciso e acessível”,
adianta a fundação. O MPM é um tipo de
tumor maligno da pleura associado à exposição contínua ao amianto e de
diagnóstico difícil. Tem como sintomas mais comuns a “falta de ar, dor
no peito, perda de peso e fadiga”, o que “pode levar à confusão com
outras doenças do trato respiratório”O
facto de os sintomas só aparecerem geralmente “em fases avançadas da
doença”, torna o diagnóstico precoce “crucial para aumentar as
probabilidades de tratamento bem-sucedido”. Registam-se anualmente cerca de 92.500 casos desta doença, cuja mortalidade “é muito elevada a nível mundial”.“Portugal
regista apenas cerca de 38 casos por ano de MPM, devido à falta de
diagnóstico, um valor manifestamente abaixo de outros países
ocidentais”, indica Jorge Cruz, cirurgião da Unidade de Pulmão da
Fundação Champalimaud, que lidera o referido programa, citado no
comunicado.“Para melhorar a resposta no
tratamento desta doença é necessário criar uma estratégia de diagnóstico
precoce e desenvolver as estratégias terapêuticas, nomeadamente a
cirurgia”, acrescenta. Embora esteja
incluída na lista das doenças profissionais em Portugal, não é
obrigatório comunicá-la e apenas 3% dos casos são notificados. “Com
a proibição da produção de materiais com amianto na Comunidade Europeia
em 2005, prevê-se que o pico desta doença ocorra entre 2020 e 2040”,
adianta.Dado que “não existe um protocolo
de diagnóstico precoce do MPM em Portugal”, a Fundação Champalimaud “irá
iniciar um estudo prospetivo pioneiro, representando um passo
importante na melhoria da deteção e tratamento desta doença”.O
amianto ainda pode ser encontrado em edifícios públicos e privados, por
exemplo em tetos falsos ou telhas de fibrocimento, sendo a
probabilidade maior nos construídos entre 1960 e 1990.