Funcionárias públicas nos Açores confessam em tribunal desvio de dinheiro
30 de jan. de 2018, 20:35
— Lusa/AO Online
Em causa está um
alegado desvio naquele organismo sob tutela da Secretaria Regional dos
Transportes e Obras Públicas dos Açores e que faz o processamento e
pagamento de apoios no âmbito dos vários sistemas de incentivos ao
investimento produtivo, nomeadamente nos setores do comércio, industria,
turismo, serviços e transportes marítimos, assim como a várias
entidades, nomeadamente a associações de bombeiros relativamente a
comparticipações de despesas com aquisição de combustível.Durante
a primeira sessão de julgamento, no Tribunal Judicial de Ponta Delgada,
em São Miguel, uma das arguidas, que era responsável pela secção
administrativa e financeira, disse que "a ideia partiu" de uma outra
arguida, assistente administrativa, e sua colega.“Ela
disse que o programa era muito simples. Acordamos que sempre que fosse
possível fazíamos o processamento de despesas que não deveriam ser
pagas”, contou perante o coletivo de juízes, garantido que “foi
instruída” pela colega para que "abrisse uma conta só no seu nome e que
posteriormente o dinheiro seria dividido".A
partir de 2004, juntou-se uma outra colega também assistente
administrativa, segundo confirmou a arguida, garantindo não ter sido ela
a fazer a abordagem à terceira arguida.A arguida adiantou ainda que foi a partir de 2004 que as três arguidas começaram a participar no alegado esquema “em trio”.A
mulher que pediu desculpa à família e ao conselho diretivo do organismo
por lhes ter "traido a confiança que depositaram" nela, alegou que
existia pouco controlo, "apenas pela rama".Justificando
que foi levada pela "insistência e persuasão" da colega e que o
dinheiro, que já "gastou todo", serviu para "ajudar os filhos e a
família e quem precisava".Uma
outra arguida, assistente administrativa, assegurou que a ideia foi da
chefe que "precisou dela, uma vez que tinha acesso ao programa".A
chefe ter-lhe-á dito que "havia uma maneira muito fácil de transferir o
dinheiro" e exemplificou com uma transferência já realizada.A
mulher afirmou só ter entrado no alegado esquema porque era “muito
amiga” da chefe e “sabia que ela tinha necessidades financeiras”, mas
“não a queria denunciar”, porque "havia a garantia que ela ia repor o
dinheiro".A
arguida, que esteve ausente do serviço quase dois anos, por motivos de
saúde, lembrou perante o tribunal que restituiu o dinheiro após ter sido
constituída arguida.Segundo a acusação, a funcionaria devolveu ao Fundo Regional de Coesão cerca de 343 mil euros.Quanto à terceira arguida, disse ter sido “abordada” pela colega em 2004.Inicialmente, a arguida disse ter recusado, mas "cedeu" posteriormente para "ajudar a filha".Referiu
ainda que "sentia medo e volta e meia entrava em depressão", até que
decidiu "não voltar ao trabalho" e pedir a reforma antecipada.A
acusação alega que duas das arguidas delinearam um plano, em 2002, ao
qual se juntou a terceira funcionária pública, em 2004, passando a
executar transferências para as contas delas, supostamente até 2016.As três mulheres estão sujeitas a termo de identidade e residência.Com idades entre os 56 e 67 anos, estão acusadas, em coautoria e na forma consumada, de um crime continuado de peculato.Duas das arguidas são ainda acusadas, em coautoria, de um crime continuado de falsidade informática.O julgamento prossegue na quinta-feira.