Função Pública espera abertura do Governo para negociar aumentos salariais
8 de out. de 2024, 11:27
— Lusa/AO Online
"A
nossa expectativa é que a reunião seja profícua e que traga resultados
positivos", afirma a presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do
Estado (STE), em declarações à agência Lusa, notando que "continua a
haver uma grande disparidade entre aquilo que é o salário mínimo e o
salário médio", pelo que espera esse seja um dos pontos centrais do
encontro, que vai decorrer no Ministério das Finanças, em Lisboa.
Na convocatória a que a Lusa teve acesso, o Governo indica que o
encontro tem como intuito “dar início ao processo negocial geral, no
âmbito da Administração Pública, previsto no artigo 350.º e seguintes da
Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas”. As reuniões vão decorrer em
separado e a proximidade com a entrega da proposta de Orçamento de
Estado para 2025 (OE2025) casou algum "desconforto" aos sindicatos. "Estamos
à espera que o Governo se sente à mesa e esteja disposto a negociar,
nomeadamente as questões salariais, mas muitas outras que estão na nossa
proposta reivindicativa", corrobora o coordenador da Federação Nacional
dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (Frente
Comum), frisando que espera "uma negociação séria, ainda que ela comece
na véspera do Orçamento do Estado, o que leva a antever que o Governo
não estará muito interessado em negociar". Também
o secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administração Pública
e de Entidades com Fins Públicos (Fesap) espera que o Governo
"apresente uma proposta de aumento dos salários reais", que permita dar
resposta ao aumento do custo de vida e à reposição do poder de compra,
bem como à necessidade de "reter competência, recrutar os melhores e
evitar que as pessoas continuem a sair do país". Não
obstante, José Abraão lamenta que o "tempo já seja curto", dado que a
reunião acontece "a 24 horas da entrega do OE no parlamento", pelo que a
partir daí "a negociação terá em principio de ser feita com os partidos
políticos".Os três sindicatos que
representam a Administração Pública já apresentaram publicamente os
respetivos cadernos reivindicativos e reclamam aumentos remuneratórios
de, pelo menos, 6%. Em concreto, a Fesap, afeta à UGT, propõe um aumento
salarial de 6,5% em 2025, com uma atualização mínima de 85 euros para
todos os trabalhadores do Estado, e uma subida do subsídio de refeição
de seis para oito euros por dia.Já a
Frente Comum, afeta à CGTP, exige aumentos salariais de, pelo menos,
15%, com um mínimo de 150 euros por trabalhador, a partir de janeiro de
2025, e que o subsídio de alimentação seja aumentado para 10,50 euros. Por
sua vez, Frente Sindical, liderada pelo STE, quer uma atualização
salarial de, pelo menos, 6% e um aumento do subsídio de refeição de seis
para 10 euros por dia."Temos expectativa
de que o Governo, da mesma forma que tem sido generoso com várias áreas
profissionais, também seja com os vários trabalhadores da Administração
Pública", antecipa José Abraão, referindo que, além da necessidade de
"reter competências e os melhores", está também em causa "uma questão de
equidade", uma vez que o Governo já negociou aumentos salariais para
"mais de 30 trabalhadores da Administração Pública". As
federações sindicais consideram, por isso, que o Governo pode ir além
do previsto no acordo plurianual assinado pelo anterior executivo,
liderado por António Costa, (e no qual a Frente Comum ficou de fora),
que previa aumentos de cerca de 52 euros ou de 2% para a administração
pública até 2026. De notar que a
secretária de Estado da Administração Pública já garantiu que iria
cumprir o acordo, mas não revelou se estaria disposta a ir mais além."A
possibilidade de haver aumentos existe e é real. O país tem dinheiro
para valorizar os serviços públicos e os seus trabalhadores, assim haja
vontade política de discutir o que interessa", defende Sebastião
Santana. "O Governo tem de ir mais além", acrescenta José Abraão. "A
atualização das remunerações deve ser, pelo menos, de 6%", aponta ainda
Maria Helena Rodrigues. Além da
atualização salarial, da subida do subsídio de alimentação e do aumento
das ajudas de custo, há outras matérias que constam nos respetivos
cadernos reivindicativos e que as federações sindicais consideram
fundamental ver discutidas. "Temos as
questões relativas ao sistema de avaliação [dos funcionários públicos], o
SIADAP, que continuamos a entender que deve ser revogado", destaca o
coordenador da Frente Comum, considerando que o sistema "é um entrave à
progressão dos trabalhadores". Já o
secretário-geral da Fesap apela ao Governo para que "atenda" à sua
proposta e que permita que "de uma forma negociada e até faseada se
contem todos os pontos resultantes da avaliação de desempenho dos
trabalhadores da Administração Pública, bem como o tempo de serviço em
mais de uma dezena de carreiras especiais que não foi contado", tal como
aconteceu com os professores, lembra.Por
outro lado, as três estruturas exigem também "a valorização das
carreiras da Administração Pública", bem como "a revisão das carreiras
não revistas". "É fundamental que o
Governo nos apresente um calendário para a revisão das carreiras não
revistas, tais como a da polícia municipal, dos trabalhadores de
reinserção social, de técnico superior de saúde e a carreiras das
inspeções, sejam elas internas ou externas do Estado", enumera José
Abraão, lembrando que o executivo tinha prometido a apresentação desse
calendário para setembro.Já Sebastião
Santana nota que, no que diz respeito às carreiras gerais da
Administração Pública, continuam a existir "muitos concursos vazios"
devido à "política de valorização das carreiras e de baixos salários"
que se tem verificado.