Francisco celebra cinco anos de pontificado marcado pela denúncia de dramas sociais
10 de mar. de 2018, 10:14
— Lusa/AO online
Mas a
verdadeira revolução de Francisco está na forma como se relaciona com o
exterior, informal, frontal e duro quando acha necessário na denúncia
de conflitos, terrorismo, refugiados e, sobretudo, da pobreza.
Os múltiplos escândalos de pedofilia e as sucessivas denúncias de
abusos de crianças por sacerdotes, assim como “a corrente de corrupção”
que afirmou existir no seio da Cúria, não são uma tarefa fácil para o
papa. Reconheceu isso mesmo meses depois de ser eleito durante um
encontro com religiosos latino-americanos.
O argentino Jorge Mario Bergoglio, 81 anos, tornou-se no primeiro
pontífice oriundo da América Latina, numa escolha considerada
surpreendente, já que estava entre os cardeais mais velhos do conclave.
Sorridente, o cardeal jesuíta surgiu, a 13 de março de 2013, na varanda
da basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano, ao som dos gritos da
multidão "Longa vida ao papa!".
Francisco, o primeiro papa jesuíta, pediu "irmandade" entre os 1,2 mil
milhões de católicos e rezou juntamente com a multidão na praça de São
Pedro e afirmou que os cardeais "tinham ido ao fim do mundo" para o
eleger. No
segundo aniversário do pontificado, Francisco, 265.º sucessor do
apóstolo Pedro, declarou ter a sensação de que o pontificado podia ser
breve, de quatro ou cinco anos, mas desmentiu sentir-se "só e sem
apoio".
"Tenho a sensação que o meu pontificado vai ser breve. Quatro ou cinco
anos. Não sei. Ou dois ou três. Dois já passaram. É uma sensação um
pouco vaga que tenho, a de que o Senhor me escolheu para uma missão
breve. Sobre isso, mantenho a possibilidade em aberto", afirmou o papa
numa longa entrevista à cadeia de televisão mexicana Televisa.
À pergunta "gosta de ser papa?", Francisco respondeu sobriamente e sem
entusiasmo excessivo: "Não me desagrada". Um ano antes tinha admitido
perante milhares de jovens e professores de escolas jesuítas que não
queria tornar-se no líder da Igreja Católica. “Deus não teria abençoado alguém que quisesse, que tivesse vontade de ser papa. Eu não queria ser papa”, disse o papa.
Na mesma entrevista à cadeia de televisão mexicana sublinhou que sempre
detetou viajar e que é uma pessoa caseira, contudo, em cinco anos já
realizou mais de 30 deslocações internacionais, as mais recentes ao
continente sul americano.
Portugal foi, em 2017, o 28.º país a receber uma visita do papa
Francisco. Embora sem uma relação conhecida com o Santuário de Fátima, o
papa chegou como peregrino e canonizou os pastorinhos Jacinta e
Francisco Marto. No final da visita, o papa disse que ia repetir a “mensagem de paz” de Fátima “com quem quer que fale”.
Paralelamente, vincou o seu lado inter-religioso, tendo participado na
celebração dos 500 anos da reforma de Lutero, e avistou-se com lideres
ortodoxos, judeus e muçulmanos. Durante
estes cinco anos de pontificado, Francisco procurou por em evidência
variados temas sociais, defendendo a proteção dos idosos e das crianças,
o direito a um trabalho digno, a defesa do ambiente e ainda a ajuda aos
refugiados, tornando visível a mensagem social da Igreja.
Poucos meses depois da sua eleição, quando uma parte do mundo começou a
conhecê-lo, Francisco anunciou qual seria sua primeira viagem e não foi
para nenhum centro do cristianismo, mas para Lampedusa, centro da
tragédia de migrantes no Mediterrâneo.
Nas suas últimas viagens a Myanmar (Birmânia) e Bangladesh, lidou com o
drama da minoria muçulmana da Rohingya lembrando a comunidade
internacional que este é um assunto que não deve ser esquecido.
Acusou o Vaticano de se centrar nele próprio e esquecer-se do resto do
mundo e não fugiu dos temas em que a Igreja sempre assumiu uma postura
conservadora. Simplificou os procedimentos para o reconhecimento da
anulação dos casamentos católicos, afirmou-se incapaz de julgar
homossexuais que procuram Deus, disse não fechar a porta ao debate sobre
o fim do celibato no clero ou a ordenação de sacerdotes do sexo
feminino. Mas o
sociólogo e fundador do Centro de Estudos sobre Novas Religiões,
Massimo Introvigne, explicou numa entrevista recente na página
"Leformiche" que, em "grandes argumentos morais como o aborto, a
eutanásia ou o casamento, a Igreja nunca mudará porque são considerados
princípios não negociáveis e Jorge Bergoglio, embora tenha dito pouco,
mantém uma clara continuidade com seus predecessores ".
Francisco também atinge as consciências incluindo a Igreja na luta pela
proteção do meio ambiente na encíclica "Laudato si", que se tornou um
verdadeiro manifesto ambiental e social em todo o mundo.
Noutros textos de seu pontificado, a exortação apostólica "Evangelii
Gaudium”, Francisco também apresentou a denúncia do sistema económico
atual: "uma economia que mata".
"Os lucros de alguns crescem exponencialmente, os da maioria permanecem
cada vez mais longe do bem-estar dessa minoria feliz" e "esse
desequilíbrio social vem de ideologias que defendem a autonomia absoluta
dos mercados e a especulação financeira", denunciou.
Pendente tem ainda a questão da pedofilia. Francisco foi o pontífice
que prometeu "tolerância zero" com pedofilia por membros do clero, mas
continua a ser um problema neste pontificado tendo agora nas mãos o caso
do bispo de Osorno (Chile), Juan Barros, acusado de encobrir o padre
Fernando Karadima, condenado por abuso sexual de menores de idade.