França impõe estado de emergência na Nova Caledónia devido a confrontos mortais
16 de mai. de 2024, 11:41
— Lusa/AO Online
A
porta-voz do Governo francês, Prisca Thevenot, anunciou a decisão após
uma reunião do Conselho de Ministros, em Paris. A decisão
surge na sequência de dias de distúrbios naquele território do Pacífico
sul e daquilo que Thevenot descreveu como “cenários de caos”, com quatro
mortes registadas, entre as quais a de um agente dos serviços de
segurança.As medidas de emergência
conferem às autoridades mais poderes para combater os tumultos,
incluindo a possibilidade de colocar em prisão domiciliária pessoas
consideradas uma ameaça à ordem pública no território, onde os
partidários da independência há muito lutam para se libertarem de
França.“A prioridade é repor a ordem, a calma e a serenidade”, disse a porta-voz do executivo francês.O estado de emergência entrará em vigor às 05h00 de hoje na Nova Caledónia (19h00 em Lisboa). Mais
de 300 pessoas ficaram feridas desde segunda-feira, altura em que os
protestos contra uma revisão constitucional promovida por Paris, que
altera o recenseamento eleitoral, retirando peso aos povos autóctones,
se tornaram violentos. Segundo as autoridades francesas, foram efetuadas
mais de 130 detenções. Há décadas que
existem tensões no arquipélago entre os indígenas Kanaks, que pretendem a
independência, e os descendentes dos colonizadores, que querem
continuar a fazer parte de França.Foi
ordenado o envio de reforços policiais para o território, para ajudar as
forças de segurança locais, que se têm confrontado com manifestantes
violentos. O Ministério do Interior disse que mais 500 agentes são
esperados dentro de algumas horas no arquipélago para reforçar os 1.800
polícias e guardas nacionais que já lá se encontram.
Os distúrbios desta semana começaram quando o parlamento francês
debatia em Paris a alteração da Constituição francesa para modificar os
cadernos eleitorais na Nova Caledónia.A Assembleia Nacional aprovou um projeto de lei que, entre outras
alterações, permite que os residentes na Nova Caledónia há dez anos
possam votar nas eleições provinciais. Os
opositores dizem que a medida beneficiará os políticos pró-França na
Nova Caledónia e marginalizará ainda mais o povo indígena Kanak, que no
passado foi alvo de uma política de segregação rigorosa e discriminação
generalizada.O vasto arquipélago de cerca
de 270.000 habitantes situado a leste da Austrália está dez fusos
horários adiantado em relação a Paris.Na
capital, o Presidente francês, Emmanuel Macron, sublinhou a
necessidade de diálogo político, e os partidos políticos adversários
locais emitiram um apelo conjunto para a calma na Nova Caledónia,
afirmando num comunicado: “Temos de continuar a viver juntos”.O
recolher obrigatório durante a noite na Nova Caledónia foi prolongado
até quinta-feira, e as escolas e o principal aeroporto permaneceram hoje
fechados, indicou o representante do Governo francês no território, o
Alto-Comissário Louis Le Franc, acrescentando que alguns moradores da
capital e dos municípios vizinhos formaram “grupos de autodefesa” para
proteger suas casas e estabelecimentos comerciais.A
Nova Caledónia tornou-se francesa em 1853, sob o comando do imperador
Napoleão III, sobrinho e herdeiro de Napoleão. Tornou-se um território
ultramarino após a Segunda Guerra Mundial, tendo sido concedida a
nacionalidade francesa a todos os Kanaks em 1957.Em
1988, foi celebrado um acordo de paz entre as fações rivais. Uma década
depois, França prometeu atribuir à Nova Caledónia poder político e
ampla autonomia e organizar até três referendos sucessivos.Os
três referendos realizaram-se entre 2018 e 2021, e a maioria dos
eleitores optou por continuar a fazer parte de França, em vez de apoiar a
independência.O povo Kanak,
pró-independência, rejeitou os resultados do último referendo de 2021,
que boicotou por ter sido realizado no pico da pandemia de covid-19.