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“Foram tantas as descobertas, tantas as conquistas... Viver foi e é um privilégio”

O Centro Cultural Natália Correia acolheu no passado sábado, dia 25 de outubro, o lançamento do livro: “O que fomos, o que somos”, da autoria dos utentes do Lar Momentos Felizes, em Ponta Delgada


Autor: Daniela Carreiro

O Centro Cultural Natália Correia acolheu no passado sábado, dia 25 de outubro o lançamento do livro: “O que fomos, o que somos”, da autoria dos utentes do Lar Momentos Felizes, em Ponta Delgada.

Este projeto, fruto de uma atividade de escrita promovida semanalmente pelo terapeuta, Lázaro Melo, incentiva os utentes a escreverem cartas sobre diversos temas e a debruçarem-se sobre as suas “memórias e reflexões”. 

Nasce assim a ideia de através dos textos e cartas escritas no atelier “Chá Literário”, compilar o livro: “O que fomos, o que somos”, com o objetivo de cada utente deixar um pouco do seu legado e que este chegue até às atuais gerações, bem como as gerações vindouras.

Fernanda Vaz, diretora técnica do Lar Momentos Felizes, em declarações ao Açoriano Oriental, confessa ser “fácil” promover este tipo de atividade inusuais, devido ao espírito de iniciativa dos residentes. “É fácil eles aceitarem e entrarem no projeto novo, de não dizer que não”, admite a diretora.

Entre os testemunhos apresentados nesta obra temos, por exemplo, o caso de Lurdes Palhinha, que aprendeu a arte de ser cabeleireira observando a mãe e pedindo autorização às suas clientes para praticar. “Penteei a fina flor de Ponta Delgada e mesmo cansada, depois de aprontar a última cliente, arranjava-me a mim própria para ir ao baile com o meu marido e os nossos filhos”, declara ao Açoriano Oriental.

Ou o testemunho de Maria Luísa Quental, com 95 anos, natural de Vila Franca do Campo, que relembra as “loucinhas de barro”, os brinquedos feitos de barro que imitavam os utensílios culinários. Uma memória que a leva às Festas do Senhor da Pedra, onde comprava as “loucinhas”  que, juntamente com o primo Virgínio, levava para a casa dos avós maternos, “onde passávamos o mês de setembro”. 

Enquanto que Salomé Carvalho, também com 95 anos, natural da Lomba da Maia, reflete sobre a sua experiência de vida. Assim como Maria Luísa Quental, foi professora de Instrução Primária mas admite que o nascimento dos seus filhos foi “sem dúvida, dos momentos mais felizes na minha vida”. Assim como o dia do seu casamento ou o dia “que recebi o meu primeiro ordenado”. Mas com o passar do tempo, e sendo uma das consequências de viver o envelhecimento, Salomé admite que “houve dias difíceis” mas o balanço que esta utente faz sobre a sua vida é “bastante positivo”. “Foram tantas as descobertas, tantas as conquistas... Viver foi e é um privilégio”. 

Lázaro Melo, em declarações ao jornal, realça o testemunho de José António Macedo, com 81 anos, por ser “um senhor que atualmente já não escreve e já quase não comunica” mas que figura no livro um texto de “quando ainda conseguia”. 

No livro, José Macedo, antigo controlador aéreo, reflete sobre a sua profissão onde passou por momentos “intensos”, bem como “situações bem cómicas”. Terminou a sua carreira em Macau, enquanto esta ainda estava sob administração portuguesa e revela que a reforma trouxe-lhe “ finalmente a paz de assentar em São Miguel”. Para este utente, os seus filhos são uma parte enorme da sua vida” e que estes estão a “viver as suas histórias, nos sítios onde a vida os levou”. 

Mas não se acanha em revelar que a felicidade “está nos momentos (...) e eu sou realmente feliz sempre que os tenho por perto”.