Fogos de 2024 e 2025 revelaram “falhas de coordenação”
Hoje 12:49
— Lusa/AO Online
“As falhas de
coordenação entre as diferentes forças atrasam o tempo de resposta aos
fogos e aumentam a propagação dos mesmos. A criação das forças de
combate a incêndios florestais em Portugal reforçou a resposta rápida a
incêndios em áreas florestais. No entanto, também contribuiu para
estruturas de comando pouco claras entre as forças de proteção civil,
voluntárias e de combate a incêndios florestais”, conclui a Organização
de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE) no relatório “Rumo a
uma gestão integrada dos incêndios rurais em Portugal”, a que Lusa teve
acesso.As conclusões preliminares deste
projeto financiado pela União Europeia, realizado em colaboração com a
Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), foram apresentadas por técnicos da OCDE aos deputados portugueses na
Assembleia da República.O relatório dá
conta da existência de “desafios de coordenação” quando as equipas
especializadas do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
(ICNF) e as forças de proteção civil têm de operar em conjunto, apesar
da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) ter a
autoridade de comando.“Estas lacunas de
coordenação são ainda mais amplificadas a nível local, onde os bombeiros
voluntários e outros intervenientes na supressão (por exemplo,
bombeiros municipais e GNR) não seguem de forma consistente a cadeia de
comando hierárquica da ANEPC, o que pode levar a mobilizações
fragmentadas, tempos de resposta mais lentos e uma alocação menos
eficiente dos recursos no terreno”, precisa, sublinhando que “esta falta
de clareza colocou desafios na gestão operacional dos incêndios em
2024”.Segundo a OCDE, estas situações
refletem atrasos na mobilização de forças especializadas e uma cadeia de
comando operacional pouco clara durante as fases de ataque inicial e
pré-supressão (operação que decorrer após o incêndio ter sido dado como
extinto) devido à diversidade de partes interessadas e envolvidas.“Como
resultado, os recursos foram alocados tardiamente ou de forma
insuficiente num contexto de incêndios múltiplos e complexos”,
concluíram os técnicos. Os técnicos da
OCDE referem que Portugal iniciou uma série de reformas para melhorar a
gestão dos fogos após 2017 com a criação do Sistema de Gestão Integrada
de Fogos Rurais (SGIFR), mas, indicam, os incêndios de 2024 e 2025
revelaram que "poderiam ser ainda mais contidos se as ações no âmbito do
SGIFR fossem aceleradas”.Segundo aquela
organização, a introdução do SGIFR melhorou as condições institucionais,
regulamentares e financeiras para a gestão de incêndios florestais,
clarificou as responsabilidades a nível nacional, regional e municipal
em matéria de prevenção e resposta, criou a AGIF para coordenar todos os
atores envolvidos e desenvolveu uma estratégia unificada. Depois
de 2017 foram criados novos incentivos para promover a queima
controlada e mosaicos estratégicos de combustível para reduzir o risco
de incêndio, tendo o financiamento público para a gestão duplicado,
representando agora a prevenção quase metade das despesas totais
relacionadas com incêndios.“No entanto, a
extensão dos danos causados pelos incêndios florestais de 2024/205
aponta para a necessidade de acelerar a implementação de reformas. Em
2024, 35 incêndios provocaram mais de 500 hectares representaram 84% da
área total queimada anualmente e o verão de 2025 voltou a registar
incêndios de dimensões excecionais, ultrapassando a área queimada pelos
incêndios que desencadearam as reformas em Portugal em 2017”, refere a
OCDE, frisando que estes fogos revelaram “várias lacunas”.Além
das “falhas de coordenação”, a OCDE aponta algumas falhas ao nível da
prevenção como “um elevado número de incêndios provocados pelo homem”,
lacunas persistentes no cumprimento das metas de gestão de combustíveis e
a contestação local aos mapas de risco e perigo de incêndio.“Isso
atrasa a adoção de planos municipais de execução de medidas de gestão
de incêndios, que são essenciais para obter financiamento e implementar
regulamentos contra incêndios”, frisa o documenta, lamentando também que
“não exista um registo sistemático das perdas e danos causados pelos
incêndios florestais”.Para que o país crie
“um quadro institucional mais forte”, a OCDE recomenda a clarificação
das funções e as estruturas de comando entre os bombeiros e um reforço
da sua capacidade.A organização propõe
também o desenvolvimento de “uma estratégia de financiamento de longo
prazo para incêndios florestais, a fim de aumentar a eficiência das
despesas com a gestão de incêndios florestais”.