Fogo de agosto foi o maior em 47 anos na serra da Estrela
Incêndios
26 de dez. de 2022, 16:16
— Lusa/AO Online
“Se
olharmos para o histórico desta área - do Parque Natural da Serra da
Estrela - desde 1975, constata-se que até ao dia do incêndio [06 de
agosto de 2022] não tinha existido um incêndio com estas proporções. Foi
o maior alguma vez registado nesta área, apesar de terem existido
bastantes incêndios”, afirmou.André
Fernandes durante falava num ‘briefing’ realizado na Covilhã,
distrito de Castelo Branco, no âmbito de uma visita que o Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, está a realizar a vários concelhos
afetados por aquele fogo.Neste périplo,
Marcelo Rebelo de Sousa é acompanhado pelo ministro da Administração
Interna, José Luís Carneiro, sendo que, além da Covilhã, também estão
previstas passagens pelos concelhos de Manteigas, Seia, Gouveia,
Celorico da Beira e Guarda, no distrito da Guarda.No
início da manhã, o chefe de Estado esteve no quartel dos Bombeiros da
Covilhã, local onde foi feita a apresentação sobre o incêndio que passou
por dois distritos (Castelo Branco e Guarda) e seis concelhos, tendo
consumido 24 mil hectares de terreno.Uma
área ardida que faz com que seja o maior fogo desde 1975 naquele
território, como referiu o comandante nacional da Autoridade Nacional de
Emergência e Proteção Civil (ANEPC).Segundo acrescentou, antes deste, o fogo de maior dimensão tinha ocorrido em 2017 e afetou os concelhos de Seia e Gouveia.Na
linha cronológica, também se verifica que aquela região teve grandes
fogos nos anos de 1978, 2000, 2017 e 2022: “Nota-se aquilo que é um
ciclo de grandes incêndios nesta área”.Concentrando
o olhar no fogo de agosto, explicou que esteve em causa um incêndio de
montanha, que começou de madrugada e cuja causa apontada é o
“incendiarismo”.Nesse ponto, lembrou o
grande número de ignições registadas na região, explicando que os 30
dias que antecederam o incêndio da Serra da Estrela se verificou “um
elevado número de ignições” no limite exterior do Paque Natural da Serra
da Estrela (PNSE).Detalhou que só nas
freguesias da Covilhã/Canhoso, Teixoso/Sarzedo e Cantar-Garlo/Vila do
Carvalho houve 45 ignições desde o início do ano.Dessas, 14 ocorreram nos 30 dias antes do incêndio e 11 perto da zona onde o fogo começou [Garrocho].A
nível operacional detalhou que o fogo se desenrolou maioritariamente
acima dos 800 metros, obrigando os operacionais a enfrentarem declives
superiores a 30% em cerca de metade da área ardida e a confrontarem-se
com dificuldades, como vias sem saída ou sem largura suficiente para a
passagem dos veículos.Na área ardida, 39% dos solos eram ocupados por mato, 18% por pinhal adulto, 17% por folhosas e 11 % por vegetação herbácea.De resto, 75% da área afetada tinha taxa de acumulação de combustível muito elevada e 8% elevada.O
comandante nacional apontou, igualmente, que o fogo teve um
“comportamento relativamente moderado” entre o dia 06 e o dia 08,
havendo uma “alteração significativa” nos dias 11 e 15, quando o fogo
chegou a atingir velocidades de propagação de três mil metros por hora e
taxa de expansão de 1.000 e 1.200 hectares por hora.No
dia 11, durante a tarde, chegou a atingir uma velocidade de propagação
de três mil metros por hora e uma taxa de expansão de mil hectares por
hora.“Ou seja, durante uma hora, atingiu
aquilo que era uma área ardida de mil hectares, representando
respetivamente o triplo e o dobro do que tinha atingido até esse
momento”, referiu.Já no dia 15 (quando se
verificou a reativação), “atingiu rapidamente uma velocidade superior a
dois mil metros por hora e a maior taxa de expansão registada desde o
início, com 1.200 hectares por hora”.“Em
termos comparativos, a taxa de expansão correspondeu a valores da mesma
ordem de grandeza daquilo que foi a área ardida nos grandes incêndios de
15 de outubro de 2017”.Sobre a atuação
futura e tendo em conta que não se podem mudar a orografia e os
declives, defendeu que é preciso tornar a paisagem mais resiliente
(evitando espécies que potenciam a acumulação de combustível), potenciar
o papel fundamental da serra da Estrela, enquanto reserva de
biodiversidade e fonte de absorção de água, e mitigar as causas
associadas ao número de ignições, conjugando o uso florestal, agrícola e
pastoril.Incrementar capacidade de
resposta local a incêndios rurais e outras emergências, capacitar
recursos locais, apostar num plano integrado e apoiar o reforço das
equipas de intervenção permanente, bem como reforçar a formação em
ambiente de montanha foram outras das propostas que defendeu.