Autor: Filipe Torres
O Governo Regional dos Açores anunciou a aplicação de medidas sanitárias excecionais na ilha das Flores, devido à deteção de focos de Loque Americana, uma “doença bacteriana altamente contagiosa” que afeta colmeias e pode devastar a produção apícola.
Segundo o documento assinado pelo diretor regional, Luís Estrela, a situação foi confirmada nos concelhos das Lajes das Flores e de Santa Cruz das Flores, onde passam a vigorar Áreas de Vigilância. Nestes territórios é proibida a movimentação de abelhas, colmeias, enxames ou materiais apícolas. A comercialização de cera de abelha nas Flores só é possível se estiver devidamente esterilizado e acompanhado de certificação oficial.
Entre as medidas destacam-se a destruição obrigatória de apiários positivos ou suspeitos, a proibição da instalação de novos apiários e a necessidade de análises laboratoriais regulares aos existentes. Também o transporte de materiais para melarias só será permitido em períodos de cresta e após testes negativos. A comercialização de cera fica restrita àquela que for previamente esterilizada.
A Direção Regional da Agricultura, Veterinária e Alimentação sublinha que o incumprimento constitui contraordenação, podendo configurar crime de desobediência ou falsas declarações. O edital entra de imediato em vigor e apela à colaboração de autoridades policiais, veterinárias e administrativas na fiscalização.
Ao Açoriano Oriental, Luís Estrela afirma que a primeira ação decorreu entre os dias 3 e 8 de julho, na qual foi detetado o primeiro caso da loque americana, uma doença que já tinha sido detetada na ilha de São Miguel entre 2009 e 2011 e na ilha do Pico em 2017, e posteriormente em 2021. Neste verão, na ilha das Flores, já foram destruídas 53 colónias e três apiários.
O diretor regional afirma que o impacto económico, à data, é significativo e que, para os apicultores afetados, tem um impacto muito grande. No entanto, Luís Estrela confirma que o Governo Regional vai dar uma compensação financeira aos apicultores cujo material teve de ser destruído.
Nos dias 20 e 21 de Agosto, foi realizada a segunda ronda das amostras e foram enviadas ao Laboratório Regional de Veterinária.
O
foco da doença loque americana foi identificada nas Flores no âmbito
dos controlos sanitários previstos no Programa Sanitário Apícola
Regional.
Governo Regional e Casermel com visões diferentes
A deteção de loque americana nas Flores voltou a abrir o debate sobre as estratégias de combate a esta doença. O Governo Regional, através do diretor regional de Agricultura, Veterinária e Alimentação, Luís Estrela, sublinha que a prioridade é erradicar o problema com medidas firmes mas proporcionais. O responsável garante que o consumo de mel não representa riscos para a saúde humana e insiste que o objetivo é preservar a excelência sanitária da apicultura açoriana.
Questionado sobre o impacto a médio e longo prazo da loque americana na atividade apícola nas Flores, o diretor regional afirma que a atividade ‘não está comprometida’, uma vez que apenas três dos cerca de 17 apiários foram destruídos, e os apicultores poderão relocalizar-se em zonas seguras com acompanhamento técnico.
Por outro lado, José Gaspar, presidente da Casermel, Cooperativa de Apicultores e Sericicultores de São Miguel, reconhece a importância das medidas, mas defende que se devia ir mais longe. “Não veríamos com maus olhos que fosse equacionada a possibilidade de destruição de todos os apiários da ilha e não apenas daqueles em que já foi identificado ou que se suspeita”, afirma, sublinhando que tal ação teria de ser acompanhada por indemnizações justas. Só assim, explica, seria possível travar a loque americana, e também a outra praga já presente nas Flores: a varroa.
José Gaspar sublinha a importância de compreender as causas do surto, definir as medidas a adotar e estabelecer as estratégias para prevenir futuras ocorrências, defendendo que o caso das Flores sirva de estudo.