FMI sugere que BdP introduza 'amortecedor' contra risco da exposição da banca ao imobiliário
16 de mai. de 2022, 17:35
— Lusa/AO Online
“Uma vez que a
recuperação esteja bem estabelecida, o Banco de Portugal (BdP) poderia
considerar a introdução de uma reserva de capital anticíclica com
notação positiva ou uma reserva setorial de risco sistémico contra
potenciais riscos macrofinanceiros das exposições imobiliárias dos
bancos”, sugere o Fundo Monetário Internacional (FMI), nas conclusões da
avaliação anual a Portugal, divulgadas hoje. Num
briefing com a imprensa, Rupa Duttagupta, que liderou a missão do
FMI a Portugal, salientou que o sistema bancário resistiu “relativamente
bem” aos dois choques duplos – pandemia e guerra - até agora. “Os
níveis de capital aumentaram no ano passado, o crédito malparado
diminui e, em geral, a rentabilidade dos bancos é ligeiramente superior.
Tudo isso é uma boa notícia”, disse. Contudo, alertou que “existem alguns riscos domésticos que felizmente não se materializaram, mas não desapareceram”. Nas
conclusões da avaliação a Portugal, o FMI assinala que o acompanhamento
atento da qualidade de crédito dos bancos continua a ser essencial,
advertindo que o impacto do fim das moratórias e de novos riscos,
inclusive do mercado imobiliário, sobre a qualidade do crédito deverão
continuar a ser fontes de incerteza durante algum tempo. “As
autoridades prudenciais estão a monitorizar ativamente a qualidade de
crédito dos bancos e confirmam que a materialização do risco de crédito,
até agora, não foi tão significativa quanto o esperado no início da
pandemia. As estratégias para reduzir os NPLs estão a dar frutos, mas
alguns bancos ainda não concluíram seus processos de ajustamento”, pode
ler-se nas conclusões.Ainda, assim, Rupa Duttagupta considerou que Portugal deverá continuar "atento" ao impacto do fim das moratórias. O
FMI considera que os riscos de aumento dos preços imobiliários, ainda
que contidos, também devem ser “monitorizados de perto”. Rupa
Duttagupta precisou que “esses riscos não são elevados neste momento,
mas podem aumentar se os preços das casas continuarem a subir”. Para
a responsável do FMI para evitar esses riscos é necessário “construir
gradualmente” ‘buffers’ (quando, na estrutura de capital, o capital
regulatório mantido é maior do que o mínimo exigido pelo regulador) de
capital onde são menores, mas também tornar o sistema bancário mais
resiliente. “A recomposição dos ‘buffers’
de capital deve ser feita de forma gradual e as distribuições de
dividendos e recompras de ações devem ser cautelosas até que as
incertezas sobre as necessidades de capital, também à luz de novos
choques económicos, sejam melhor avaliadas”, explica a instituição.