Floresta Laurissilva não deverá ser ameaçada

19 de ago. de 2024, 17:20 — Lusa

“Neste momento, a floresta Laurissilva está particularmente nas encostas viradas a norte. São um espaço mais húmido. A própria floresta Laurissilva é muito mais resistente aos incêndios do que esta floresta exótica, com muitos elementos invasores”, referiu Hélder Spínola à agência Lusa, em jeito de balanço sobre o incêndio.O académico explicou que onde o fogo lavra com maior intensidade (zona sul da ilha da Madeira) predominam sobretudo “espécies exóticas e invasoras”, ainda que com alguns “elementos nativos próprios”.“Isto não quer dizer que as perdas não sejam relevantes. São, sem dúvida. Estas zonas afetadas pelos incêndios estavam a recuperar os seus elementos naturais, ao longo dos anos. Estamos a falar de incêndios que são cíclicos”, apontou. Hélder Spínola referiu que os ecossistemas mais bem preservados da ilha, do ponto de vista da biodiversidade, estão nas encostas viradas a norte e que, “felizmente ainda não estão a ser afetadas pelos incêndios, nomeadamente a floresta Laurissilva.“O que nós temos assistido em anos anteriores é que estes incêndios têm tendência a descontrolar-se nas encostas viradas a sul, onde as condições são mais propícias, atingem fortemente as zonas mais altas e, em algumas situações, acabam por começar a afetar as encostas mais voltadas para norte. Mas, quando isso acontece, perde força, devido à humidade da Laurissilva, e, felizmente, tem atingido apenas as zonas limítrofes da floresta”, apontou.Segundo referiu o antigo presidente da Quercus, a reincidência dos incêndios vai contribuir para uma “degradação dos elementos naturais” da flora da ilha da Madeira e para a “erosão dos solos.” “Estas paisagens afetadas pelo incêndio vão perdendo o seu solo, vão ficando mais frágeis. Com as chuvas, os materiais que compõem os solos vão sendo arrastados e os solos tornam-se mais pobres”, alertou.No que concerne à prevenção de novos incêndios e à gestão florestal, o académico defendeu a necessidade de tanto os municípios, como o Governo Regional, desenharem planos de defesa da floresta.“Os planos em si, como documentos, não mudam diretamente nada da realidade do território, mas são essenciais para planear um caminho e ao longo do tempo seguir um percurso que permita mudar a realidade da paisagem”, defendeu.O incêndio rural deflagrou na quarta-feira nas serras da Ribeira Brava, propagando-se no dia seguinte ao concelho contíguo a este, Câmara de Lobos, e, já no fim de semana, ao município da Ponta do Sol, através do Paul da Serra.Até domingo, 160 pessoas foram retiradas das suas habitações por precaução e transportadas para equipamentos públicos, mas muitos moradores já regressaram ou estão a regressar a casa.O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de feridos ou destruição de casas e infraestruturas essenciais.O fogo mobiliza perto de duas centenas de operacionais (inclusive do continente e dos Açores) e algumas dezenas de viaturas, além do meio aéreo do arquipélago, com as atenções centradas sobretudo nos concelhos da Ribeira Brava e da Ponta do Sol.O presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, afirma tratar-se de fogo posto, mas as causas ainda não foram divulgadas.