Flores já têm abastecimento regular mas Corvo continua com constrangimentos
2 de abr. de 2020, 09:00
— Lusa/AO Online
A
passagem do furacão Lorenzo, na noite de 1 para 2 de outubro de 2019,
causou a destruição total do molhe e cais comercial do Porto das Lajes
das Flores, causando constrangimentos ao abastecimento das ilhas do
grupo Ocidental dos Açores.Os florentinos
passaram “por um período muito difícil, mas, com o fretamento do navio
Malena, navio que reúne todas as condições para operar naquilo que resta
do que era o cais acostável do Porto das Flores, e que serve
perfeitamente a ilha, a situação regularizou”, afirmou o presidente da
Câmara de Santa Cruz das Flores, José Carlos Mendes.“Houve
dificuldades… Agora, também tem uma coisa: nós estamos já habituados às
dificuldades e encontramos sempre formas de minimizar”, explicou o
autarca, acrescentando que, “como é óbvio, aconteceram ruturas no
abastecimento, houve faltas, mas o essencial nunca faltou, nunca ninguém
passou fome”.Em Santa Cruz das Flores, “felizmente, os estragos não foram muitos”.A
autarquia recorreu aos seguros para fazer face aos prejuízos de “160 a
170 mil euros” relativos a estragos no museu e no auditório municipal. A
autarquia não vai, por isso, pedir o apoio do Governo Regional, que se
comprometeu a cobrir 85% dos gastos das autarquias nos esforços de
reabilitação.Foi no concelho vizinho, das
Lajes das Flores, que se verificou o maior dano, a destruição da
infraestrutura portuária, cuja reparação está orçada em mais de 190
milhões de euros.Sendo esta uma obra da
competência do executivo regional, à autarquia compete um prejuízo de
cerca de 100 mil euros, maioritariamente referente à “destruição de um
troço da avenida marginal da Fajã Grande – o muro de proteção, a via e
iluminação”, adiantou o presidente da Câmara, Luís Maciel.O autarca vai aproveitar o apoio governamental e aguarda a avaliação feita pelo executivo.Também
o presidente da Câmara das Lajes das Flores referiu que, “desde que o
Malena está a operar, não tem havido problemas no abastecimento”.João
Lourenço, dono do supermercado Pão de Açúcar e de vários outros
estabelecimentos, contou que “houve um período de vários meses em que
foi difícil para os barcos chegarem, mas lá se conseguiu ultrapassar”.“Não
é tanto assim como essa mensagem que passaram na televisão, que fez com
que muitos turistas não viessem cá, pensando que isto aqui era pior que
em África, que não havia nada para comer. Não é verdade. Não havia
todos os produtos que havia antes, mas havia, de vez em quando, barcos,
também chegavam produtos em aviões […]. Fomos gravemente prejudicados
por não termos turistas, que não vieram, pensando que aqui estava tudo a
morrer de fome”, afirmou o empresário, que explora também alguns
empreendimentos turísticos.Já o
proprietário de quatro supermercados e do centro comercial
Floratlântico, Arlindo Lourenço, considera que durante o período da
falta de navio, de outubro a janeiro, “foi um caos”. “Foi terrível, foi quase insuportável”, admitiu.Segundo
o responsável pelo maior estabelecimento comercial da ilha, faltou
“tudo, bens alimentares, bens para a indústria, para a construção,
tudo”.“Estava tudo a encaminhar-se para
uma situação estável, que permitia regular o funcionamento da empresa e a
recuperação dos nossos stocks. Por incrível que pareça, vem agora esta
crise da covid e está a ser outra vez um caos. Agora, temos mercadoria,
mas não temos clientes para comprar a nossa mercadoria”, contou.A
sua empresa, Lourenço e Lourenço, candidatou-se aos apoios do Governo
Regional, mas aguarda para saber o montante. Pelas suas contas, perdeu
“dezenas de milhares, ou até uma centena de milhar”.Os
apoios serão atribuídos depois de terminado o levantamento feito pela
Câmara do Comércio e Indústria da Horta. À Lusa, o presidente, David
Marcos, avançou que se espera ter o processo finalizado esta semana e
que foram recebidas 17 candidaturas – 13 das Flores, quatro do Corvo.No
Corvo, a situação é outra. O presidente da Câmara do Corvo, José Manuel
Silva, lembra que a ilha foi abastecida recentemente, “com cinco
viagens e cerca de 700 toneladas de bens de toda a tipologia”, mas
admite que a solução “ainda não está perfeita”: “O nosso caso também
está a ser tratado, mas esta situação de pandemia vem mexer com tudo,
por isso, pode não acontecer tão rapidamente”.A
solução passa por um barco “com condições de navegabilidade que os
atuais não têm”. Na mais pequena ilha dos Açores, os comerciantes
queixam-se da falta de regularidade.João
Pedras, gerente da Pedras e Pedras Mercearia, confessou que os
comerciantes chegam a “não fazer encomendas dos produtos” de que
precisam, “porque o que acontece é os produtos ficarem muito tempo
parados noutra ilha”. Isso aconteceu com a carga que ficou recentemente
50 dias no Faial, com “cerca de 30 mil euros parados”, dos quais ainda
aproveitou “alguns produtos, com validade grande”.Antes
do último abastecimento, faltava leite, ovos, farinha, água, açúcar,
iogurtes, laticínios: “Estivemos um mês sem abastecimento”, conta.Luís
Carlos Jorge, gerente da Loja do Cabral, afirmou que “houve muitos
constrangimentos, mas os negócios foram-se aguentando” e “a maior falta
tem sido sempre a regularidade”. Houve alturas com “mais fruta do que o
habitual” e outras em que faltavam produtos.Mencionando
também a incerteza que provocam a greve dos estivadores e a pandemia da
covid-19, o empresário disse que “as desgraças aqui nunca vêm sós”.O
furacão Lorenzo passou há seis meses pelos Açores, provocando 255
ocorrências, que obrigaram ao realojamento de 53 pessoas e somam um
prejuízo de 330 milhões de euros.