Fim da situação de alerta é 'inoportuno face à aproximação do inverno'
Covid-19
4 de out. de 2022, 14:34
— Lusa/AO Online
“Creio
que [a decisão] faria sentido se estivéssemos a sair de um período
crítico para um período naturalmente tendente a uma melhoria da
situação. Não é o caso. Vem aí o inverno e devemos estar alerta para o
evoluir da situação, logo não me parece uma medida oportuna”, adiantou à
agência Lusa o especialista do Instituto de Medicina Molecular (iMM) da
Universidade de Lisboa.Na quinta-feira,
no Conselho de Ministros, o Governo não renovou a situação de alerta em
Portugal continental, com o ministro da Saúde a justificar a decisão com
a elevada vacinação dos portugueses, com a proteção conferida pela
vacina, com a menor agressividade das estirpes em circulação e com a
estabilização da doença na saúde da população e nos serviços de saúde.Já
na segunda-feira, Manuel Pizarro refutou as críticas dos médicos de
saúde pública sobre o fim da situação de alerta, o nível mais baixo de
resposta a situações de catástrofes da Lei de Bases da Proteção Civil,
garantindo que a decisão tem sustentação técnica e o apoio da maioria
dos profissionais de saúde.Para Miguel
Castanho, o próximo inverno “pode trazer uma pioria da situação,
eventualmente com a necessidade de tomar medidas” e só depois desta
estação é que será possível ter “uma noção minimamente exata sobre a
tendência da atividade viral” do SARS-CoV-2.“Com
o número de reinfeções que se tem registado e com uma percentagem
significativa de portugueses ainda sem imunidade natural, é precipitado
assumir que já entrámos numa fase estável e segura que seja duradoura”,
alertou o especialista.Em relação à
sustentação técnica que esteve na base decisão do Governo, o professor
da Faculdade de Medicina de Lisboa considera que “conviria saber em que
parâmetros e com que pressupostos se fez a análise da atividade viral e
sua evolução” no país.“A sustentação
técnica seria isso. Os indicadores conhecidos são relativamente
escassos, mas podem existir outros que não estejam disponíveis”,
afirmou.De acordo com a Direção-Geral da
Saúde (DGS), a não prorrogação do estado de alerta visou adequar a
legislação ao estado epidemiológico atual em Portugal, equiparando, em
termos legais e dos procedimentos, a “infeção covid-19 às outras
doenças”.Na prática, o isolamento deixou
de ser obrigatório e terminou a atribuição de incapacidade temporária
para o trabalho por covid-19 e o subsídio associado, que deixaram de ter
um regime especial, passando a beneficiar do regime das outras
situações de doença.Para Miguel Castanho,
ainda que termine este sistema de seguimento individualizado dos doentes
ou dos casos positivos, “há que manter uma política de aconselhamento
no sentido de tomar atitudes que protejam os outros de contágio, isto é
de algum grau de isolamento”.O
investigador alerta que as cadeias de contágio podem levar a infeções na
população mais vulnerável e a casos de `covid longo´ (persistência de
sintomas após a infeção), com consequências que podem ser graves.“Não
podemos decretar que a covid-19 passa a ter a importância de uma
constipação comum”, salienta Miguel Castanho, para quem, em matéria de
doenças contagiosas, “é um dever dos doentes evitar contágios”.“A
saúde é um direito, mas também é um dever. Estejamos a falar de
sarampo, de gripe ou de covid-19, este é um princípio geral”, sublinha o
especialista.Segundo os últimos dados do
Instituto Ricardo Jorge (INSA), o índice de transmissibilidade (Rt) -
que estima o número de casos secundários de infeção resultantes de cada
pessoa portadora do vírus – do coronavírus SARS-CoV-2 estava nos 1,06 em
Portugal e todas as regiões apresentavam este indicador acima do limiar
de 1.A mortalidade e as
hospitalizações por covid-19 continuam em níveis estáveis em Portugal,
mas o país regista uma tendência crescente de novos casos de infeção,
indicou também relatório sobre a evolução da pandemia divulgado na
sexta-feira.O INSA estima que, desde 02 de
março de 2020, quando foram notificados os primeiros casos, Portugal
tenha registado perto de 5,5 milhões de infeções pelo vírus que provoca a
covid-19.