Filme sobre Salgueiro Maia é "uma tentativa de reposição de justiça"
25 Abril
7 de abr. de 2022, 11:08
— Lusa/AO Online
"Salgueiro Maia - O
Implicado", com realização de Sérgio Graciano, é uma produção da Sky
Dreams, de José Francisco Gandarez, a partir de uma ideia do antigo
jornalista e empresário António Sousa Duarte, segundo o qual estão em
curso planos para fazer também 'biopics' sobre Mário Soares, Álvaro
Cunhal e Ramalho Eanes. O filme, que
assenta na biografia "Salgueiro Maia - Um homem da Liberdade", "pretende
que seja um contributo para o alerta" sobre a importância do antigo
capitão de Abril para a história recente de Portugal."É
uma tentativa de reposição de justiça. Tinha merecido que em vida se
tivesse feito algo de simpático. Pouco se fez. (...) Quem designa os
heróis não é o Presidente da República, nem o primeiro-ministro, nem os
militares e os diplomatas. Ele é herói, porque o povo vê nele um herói, o
povo da Esquerda, da Direita, o povo católico, o povo ateu, o povo
gordo, o povo magro. São esses que o fizeram como herói", sublinhou
António Sousa Duarte."Salgueiro Maia - O
Implicado" tem argumento de João Lacerda Matos e é protagonizado por
Tomás Alves, no papel do capitão de 29 anos, que comandou a coluna
militar que, partindo da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém,
ocupou a Praça do Comércio e cercou o Quartel do Carmo, em Lisboa, levou
à rendição do então presidente do Conselho, Marcello Caetano, e à
definitiva queda da ditadura do Estado Novo."Nasceu um país diferente com o Salgueiro Maia", disse António Sousa Duarte.Para o biógrafo, este é um filme para todos os públicos e haverá um plano de exibição que o inclua no contexto escolar."Os
adolescentes têm de saber qual o preço da liberdade e da democracia, os
jovens têm de saber o que é a vantagem de não ir à guerra, os rapazes e
as raparigas que estão na faculdade têm de saber que era difícil o
acesso à universidade", disse.A produção
do filme foi afetada pela pandemia da covid-19, e deveria ter-se
estreado mais cedo, mas o adiamento levou a que coincidisse agora com os
30 anos da morte de Salgueiro Maia e esteja incluído nas celebrações
dos 50 anos da 'Revolução dos Cravos'.Para
António Sousa Duarte, "hoje há mais conhecimento e fascínio por Maia do
que havia há 15 anos". "Hoje há mais jovens interessados no Salgueiro
Maia, no que ele fez, no que ele disse, na sua atitude ética. Há um
certo fascínio pela ética comportamental, pela visão coerente, pela
postura às vezes um bocadinho obstinada, mas rigorosa".O
biógrafo espera que as celebrações dos 50 anos da Revolução de Abril de
1974, que se estenderão até 2024, sirvam para que aqueles
acontecimentos não caiam no esquecimento: "Para que daqui a 50 anos
continuemos a ter a noção da importância do 25 de Abril, da importância
de que estaremos num país com o máximo possível de princípios éticos, de
são convivência e de respeito pela liberdade".Sousa Duarte considera que também a crise militar de 25 de novembro de 1975 deve ser assinalada nas comemorações."O
25 de novembro não é uma correção ao 25 de Abril. É um passo na
evolução democrática da revolução. O Otelo [Saraiva de Carvalho] só foi
importante até ao 25 de Abril de 1974. O papel de Otelo cessa no dia 25,
depois foi um chorrilho de asneiras. O 25 de novembro não é o começo da
democracia, não é o centro de Direita moderado que vence a Esquerda
patética do 25 de Abril. É um passo num certo momento do processo
democrático português, é um passo normal, racional e lógico no percurso
democrático".Sousa Duarte disse estar a
colaborar com a Sky Dreams e com o produtor José Francisco Gandarez para
fazer três outros filmes nos mesmos moldes de "Salgueiro Maia - O
Implicado" e de "Snu" (2019), de Patrícia Sequeira, daquela produtora,
havendo já um argumento de João Lacerda de Matos sobre a vida de Mário
Soares. "Estamos a dar os primeiros
passos, já falámos com a família do [Mário] Soares, queremos fazer um
arco: a [relação] Snu/Sá Carneiro, Salgueiro Maia, Soares, Álvaro Cunhal
e, talvez um dia mais à frente, Ramalho Eanes", disse.Além
de chegar aos cinemas, o filme de Sérgio Graciano dará ainda origem a
uma série de quatro episódios a exibir ainda este ano na RTP.