Filme "Patrick" não é a história de um rapto, mas de uma identidade
23 de set. de 2019, 11:20
— Lusa/AO Online
O ator
luso-francês Hugo Fernandes é Patrick, um jovem adulto a viver em Paris e
que numa noite é detido numa festa. As autoridades descobrem-lhe a
verdadeira identidade e Patrick é afinal Mário, português que tinha sido
raptado e separado da família, em Portugal, aos 12 anos.A
partir desta sinopse, é inevitável a semelhança com a verdadeira
história do desaparecimento de um rapaz português, Rui Pedro, aos 11
anos, em 1998 em Lousada, e nunca encontrado. Em
entrevista à agência Lusa, Gonçalo Waddington reconhece as semelhanças
entre ficção e realidade, mas esta é apenas uma leitura superficial do
filme, até porque a ideia da história andava há muito a ser maturada."Nunca contaria a história de Rui Pedro, por uma questão de ética e de respeito. Não conseguiria", explicou.O
rapto é apenas o pano de fundo para uma ficção sobre conflito e
identidade: quem é Patrick/Mário entre a vida em Paris, o reencontro com
a família em Portugal, a profunda ligação ao homem, pedófilo, que o
raptou, e a definição de uma individualidade, entre a adolescência e a
idade adulta.Nesta história, Gonçalo
Waddington explica que nunca lhe interessou falar do episódio de rapto,
"mas das sequelas" na personagem. Daí a questão da identidade subjacente
a "Patrick", transversal também nas duas curtas-metragens que o ator
realizou anteriormente: "Nenhum nome" (2010) e "Imaculado" (2013).Além
de Hugo Fernandes, o filme conta com interpretações de Teresa Sobral,
Alba Baptista, Carla Maciel, Adriano Carvalho, João Pedro Benard,
Raphael Tschudi e Miguel Herz-Kestranek.Com
um orçamento de cerca de dois milhões de euros, "Patrick" é uma
produção da O Som e a Fúria, com coprodução francesa e alemã.Aos
41 anos, Gonçalo Waddington já se desdobrou na produção e escrita para
teatro, representação em palco, para cinema e televisão, e agora na
realização de longo curso. Está a escrever uma peça que estreará em
dezembro e integra os filmes "Bruno Aleixo", de João Moreira e Pedro
Santo, e "Tristeza e alegria na vida das girafas", de Tiago Guedes,
ambos por estrear."Sou o ator que começou a
fazer coisas. [...] Onde me sinto bem, primeiro que tudo, é na fase da
escrita. Apesar de as metodologias [para teatro e cinema] serem
ligeiramente serem diferentes, há uma espécie de auto-escafandrismo",
como quem procura interiormente um ponto de partida para iniciar novo
processo criativo, contou.O festival de cinema de San Sebastian começou no dia 20 e termina no sábado.