Autor: LUSA/AO Online
“O filme pretende demonstrar como se constroem esses muros não sob o
aspeto técnico, mas de uma forma mais visual e sensorial, procurando-os
relacionar com a origem da matéria-prima que lhes dá forma, que é a
pedra de basáltica, vulcânica”, declarou à agência Lusa o artista
plástico. André Laranjinha é um dos responsáveis pelo Alice's House, um ateliê a funcionar desde 2007 na ilha de São Miguel. O
autor da curta-metragem afirma que esta é uma “espécie de viagem ao
centro da terra”, considerando que é a essência da matéria-prima dos
muros (basalto) que os "distingue dos restantes no mundo”, uma vez que o
processo construtivo “basicamente é semelhante” no continente e em
outras partes do planeta. Para o cineasta, os muros são um “enorme
património natural” dos Açores “muito visível” que “cumprem a função de
sobrevivência na ilha”, uma vez que desde o povoamento são utilizados
para proteger as culturas e as habitações, delimitando também os
terrenos. André Laranjinha refere que o filme “estabelece, de
forma abstrata”, a relação entre o processo de construção atual e alguns
muros antigos, sublinhando que este é idêntico. A antropóloga
Maria Emanuel Albergaria declarou à Lusa, por seu turno, que o filme
integra-se no projeto de reabertura do núcleo de Santo André do Museu
Carlos Machado, edifício-sede que esteve encerrado durante vários anos e
reabriu em 2016 com as vertentes de história natural e conventual. O
então Museu Açoreano, criado por Carlos Machado em 1876, abriu ao
público a 10 de Junho de 1880, nas instalações do antigo Liceu Nacional
de Ponta Delgada, apresentando coleções de Zoologia, Botânica, Geologia e
Mineralogia hoje consideradas históricas. Em 1890, passou a estar
dependente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, denominando-se, após
1914, Museu Carlos Machado, em homenagem ao seu fundador. Em 1976,
o Museu Carlos Machado transitou para a tutela da secretaria regional
da Educação e Cultura e, em 2005, passou a ser a tutelado pela
presidência do Governo Regional dos Açores, através da direção Regional
da Cultura. Maria Emanuel Albergaria, da equipa do património
cultural e material do museu, destacou que este trabalho, integrado nas
jornadas europeias do património, surge no âmbito do circuito das
vivências da instituição cultural, que será inaugurado em 2018. Maria
Emanuel Albergaria apontou que os muros de abrigo foram “muito
importantes” no contexto dos ciclos económicos da ilha de São Miguel,
nomeadamente da laranja, onde desempenharam um “papel fundamental” a
abrigar as laranjeiras, salvaguardando que estas “foram as primeiras
construções que se fizeram nos Açores para limpar os terrenos e erguer
alvenarias”. Não é a primeira vez que André Laranjinha realiza um
filme para o Museu Carlos Machado, uma vez que já foi responsável por
outro documentário sobre as clarissas do Mosteiro das Mercês das
Calhetas de Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande, na ilha de São
Miguel.