Filipe Cardoso anuncia retirada e deixa ciclismo “de coração cheio”
15 de jan. de 2020, 12:29
— Lusa/AO Online
“Comecei a competir com oito
ou nove anos, e a partir daí o ciclismo foi tudo. Primeiro, uma
brincadeira, depois um ‘hobby’, depois uma profissão, e sempre uma
paixão. O ciclismo trouxe-me as melhores experiências e sensações da
minha vida, mas também trouxe as piores. Levo o coração cheio desta
modalidade”, explicou o antigo ciclista.Com
a retirada, a última época do ciclista de Santa Maria da Feira foi
passada ao serviço de uma equipa da sua terra natal, a Vito-Feirense,
com uma última Volta a Portugal, que terminou em 28.º lugar, tendo sido
quinto classificado na sexta etapa, em Bragança, e 10.º na sétima, na
chegada à Serra do Larouco.Para trás fica
uma carreira em que correu sempre por equipas lusas, da LA
Alumínios-Liberty Seguros à Barbot-Efapel e à Rádio Popular-Boavista,
antes da formação feirense, além de várias vitórias em solo nacional.A
mais especial, diz, foi conseguir aquele que é um dos “sonhos maiores”
de qualquer ciclista luso, o de ganhar “uma etapa ‘rainha’ na Volta”,
conseguindo o feito em 2015, depois de “atirar ‘ao poste’ muitas vezes”,
vencendo na Senhora da Graça “uma etapa tirada ‘a ferros’”, e num ano
"muito complicado", afetado por problemas de saúde da mãe.A
retirada está a ser preparada “há dois ou três anos”, uma vez que se
encontrava a acertar o futuro longe dos pedais, ainda que isso vá passar
precisamente por uma nova forma de trabalhar “a cultura da bicicleta”,
com o projeto Grandíssima.Há dois anos,
abriu um espaço em Santa Maria da Feira, com esse nome, que é ao mesmo
tempo “um sítio para comer e beber, uma loja para tudo o que está
relacionado com o mundo das bicicletas e acessórios, e uma oficina”.Agora,
em 2020, vai expandir-se com uma nova empresa associada, a operar
“sobretudo a vender experiências com a bicicleta em Portugal”,
permitindo-lhe juntar o mundo do ciclismo ao turismo.“Tenho
35 anos, este projeto era aliciante, e sempre quis que quando fosse
deixar [o ciclismo], o fizesse por vontade própria e ainda a um nível
alto de performance. Não queria andar até já não conseguir andar na
frente ou lutar por corridas”, revela.Não
quis anunciar a despedida no início do último ano, porque não queria que
as corridas se tornassem “num funeral”, num adeus anunciado que foi
antes substituído pelo “orgulho”. “Queria mostrar que vou deixar porque
quero, e que ainda sou capaz de lutar por etapas” na última Volta,
afiança.Para Filipe Cardoso, o que fez a
carreira especial foi saber que tinha “sempre um carinho muito grande do
público”, que tentou “respeitar ao máximo e retribuir”, bem como o seu
perfil de “ciclista agressivo, que na dúvida ataca ou faz agitar a
corrida”.Sobre o que ficou por fazer, o
veterano explica que não fica “nenhuma coisa atravessada”, mas revela
que teve três propostas para sair, quando era novo, mas essa janela
“passa muito rápido”, também por pertencer a uma geração que tinha
condições em Portugal “e em que não havia tanta internacionalização”.Ainda
assim, ter corrido campeonatos do mundo de juniores, sub-23 e séniores,
“provas olímpicas” e outro tipo de voltas internacionais, como a
Tropicale Amissa Bongo, que acabou em segundo em 2009, deixa-o com “um
sorriso nos lábios” e “sem mágoa”.Além do
triunfo na Senhora da Graça, Cardoso acumulou outras vitórias em
Portugal, como três etapas na Volta ao Alentejo, em 2009, 2011 e 2012, o
Grande Prémio Costa Azul ou, lá fora, uma etapa da Volta a Chihuahua de
2007, no México, com um 58.º lugar nos Mundiais de estrada de 2011, o
11.º nos Mundiais sub-23 de 2004 ou o 17.º posto nos Jogos Europeus de
Baku2015, estes dois últimos pela seleção.“Faltou uma Volta a França? Se calhar, mas tive experiências em Portugal que não teria”, atira.Voltar
ao pelotão nacional, numa função diferente junto de uma equipa, é algo
que não pensa neste momento, preferindo antes “desfrutar do ciclismo” e
poder, por exemplo, acompanhar uma etapa no carro de uma equipa. “Não
quis deixar o desporto amargurado. Ainda pedalo todos os dias, num
registo diferente”, assume.