Festas Sanjoaninas esbatem ‘rivalidades’ entre ilhas dos Açores
21 de jun. de 2018, 14:33
— Lusa/AO Online
Nos
Açores, ainda se mantém uma certa ‘rivalidade’ entre os “rabos tortos”
da ilha Terceira e os “coriscos” de São Miguel, mas na noite de São João
os micaelenses marcham pelas ruas da cidade de Angra do Heroísmo, na
Terceira, e são recebidos com entusiasmo.Há
dois anos que a noite de São João se dividiu em duas, nas Sanjoaninas -
o elevado número de marchas levou a autarquia a propor que os desfiles
se realizem nos dias 23 e 24 de junho (feriado municipal em Angra do
Heroísmo).Este
ano são esperadas 37 marchas, contando com cinco infantis, mas cinco
chegam de outras ilhas: duas de São Miguel, uma de São Jorge, uma do
Pico e uma do arquipélago da Madeira.Para
Guido Teles, vereador do município de Angra do Heroísmo, que organiza
as festas, este interesse resulta da afirmação das festas não só nos
Açores, mas no país e junto das comunidades emigrantes.“O
facto de as Sanjoaninas terem ganho este peso e esta imagem positiva e
das noites de marchas terem conseguido esta projeção acaba por fazer com
que as marchas de fora da ilha se organizem e façam questão de cá
estar”, adiantou, em declarações à Lusa.Para
alguns, é já uma tradição desfilar pelas ruas de Angra do Heroísmo,
como é o caso da “Marcha dos Coriscos”, criada em 2010 por um grupo de
amigos de São Miguel, “com o intuito único e exclusivo de participar nas
Sanjoaninas”.“É
sempre com agrado e com muita emoção que arrancamos do Alto das Covas e
descemos a Rua da Sé. A emoção é muito grande e não há palavras para
descrever”, salientou Fernando Nunes, que participa na marcha desde
2013.O
micaelense garante que nunca sentiu qualquer animosidade por parte do
público que assiste à “Marcha dos Coriscos”, que integra também vários
terceirenses a residir em São Miguel.“Nunca houve rivalidade, até pelo contrário. Nós somos sempre muito bem recebidos na ilha Terceira”, frisou.Para
Fernando Nunes, as festas Sanjoaninas são “únicas” e vividas de uma
“forma diferente”, por isso a vontade de participar “é sempre grande”.“Nós sentimo-nos muito gratos pelo carinho e pelo apoio que o povo terceirense nos dá ao longo das ruas de Angra”, disse.Márcio
Rocha, participante na marcha oficial das Sanjoaninas, considera que é
precisamente a alegria e a envolvência entre os diferentes grupos que
faz com que a noite de São João seja diferente em Angra do Heroísmo.“Não
há uma competição. Nós somos amigos de várias marchas, inclusive de
marchas que vêm de outras ilhas dos Açores, e é isso também que
distingue as marchas das Sanjoaninas”, apontou. Ao
todo são milhares de pessoas a desfilar e muitas mais a assistir nas
principais ruas da cidade, com “energia, alegria e boa disposição”, que,
segundo Márcio Rocha, tornam estas noites de São João “não melhores ou
piores, mas diferentes”.A
marcha oficial, acompanhada pela filarmónica de Chino, dos Estados
Unidos, ilustra nas roupas, nas cantigas e nas coreografias o tema das
festas, que este ano é “Angra, Berço do Liberalismo”, mas entre os 37
grupos há quem represente freguesias, instituições, ginásios e até
juventudes partidárias e clubes de futebol.Apesar
de não agradar a todos, a distribuição das marchas por duas noites foi a
solução encontrada para não prejudicar as que desfilam por último e
para evitar limites à participação, segundo Guido Teles.“De
facto, 37 marchas numa só noite acaba por ser demasiado exaustivo e
acaba por ser também, sobretudo para quem tem todo o trabalho na
preparação destas marchas, algo injusto para quem sai no fim da noite, a
meio da madrugada”, frisou.O vereador alega que a presença de marchas de outras ilhas não só enriquece a festa, como tem impacto na economia da ilha.“Estamos
a falar de centenas de visitantes que acabam por vir participar nas
nossas festas, não só os marchantes, mas também as famílias. É inegável,
é inquestionável o impacto económico que esta quantidade de marchas,
sobretudo de marchas visitantes, acaba por trazer”, sublinhou.As
noites de marchas são um dos pontos altos das Sanjoaninas, mas em Angra
do Heroísmo o São João comemora-se durante 10 dias, com desfiles,
espetáculos musicais, tauromaquia, artesanato, exposições, atividades
desportivas e gastronomia.O
município investe todos os anos entre 600 e 800 mil euros na
organização das festas, o que, segundo Guido Teles, é um valor
"residual" face ao retorno na economia.“Aquilo
que nos tem sido transmitido é que os alojamentos, não só a hotelaria
tradicional, mas os próprios alojamentos locais, estão com as suas
lotações praticamente esgotadas, não só no concelho, mas em toda a ilha.
Isso é um claro sinal do peso e da importância que as Sanjoaninas têm
nesta vertente turística e nesta componente económica”, defendeu.