Festas da Praia assinalam 80 anos da chegada dos militares ingleses à ilha
1 de ago. de 2023, 07:34
— Lusa/AO Online
“É
importante, de vez em quando, recordarmos aquilo que é nosso. A
história do Ramo Grande é muito interessante, porque foi o que projetou
economicamente o concelho, desde que era o celeiro da ilha, quando era
chão de trigo, até depois quando chegaram os ingleses e quando foi
transformado em campo de aviação, depois com a vinda dos americanos e
até aos nossos dias”, avançou, em declarações à Lusa, a coordenadora
artística das festas Judite Parreira.De
sexta-feira ao dia 13, a Praia da Vitória celebra as suas maiores festas
com espetáculos musicais, cortejos, tradições, marchas populares,
exposições, tauromaquia, desporto e gastronomia, entre outras
atividades.Um dos pontos altos do programa
é o cortejo de abertura, no sábado à noite, que atrai milhares de
pessoas às principais artérias da cidade.Este
ano, com o tema “Do trigo dourado aos pássaros de ferro”, as festas
assinalam a chegada à Terceira, em 1943, dos militares da Royal Air
Force, que construíram uma pista de aviação nas Lajes.“É
uma forma de valorizar a nossa história e ao mesmo tempo homenagear as
pessoas que viviam naquela zona e que tiveram de sair das suas casas
para serem alojadas no bairro construído para o efeito, na Aldeia Nova”,
salientou Judite Parreira.Na altura, como
imortalizou Vitorino Nemésio, no poema “Cantiga ao Campo das Lajes”, a
população teve receio da mudança: “Cimento não dá pão alvo, como dava o
nosso trigo”.“As pessoas ficaram
assustadas com o facto de destruírem os campos de trigo, no sentido de
que iriam ficar ainda mais pobres, porque já eram pobres na altura, mas
verificou-se o contrário depois. O cimento acabou por dar mais pão do
que o trigo”, sublinhou a coordenadora artística.Professora
e atriz, Judite Parreira ficou, este ano, encarregue de organizar o
cortejo de abertura, o desfile infantil e a marcha oficial.Durante
meses, trabalhou “ao lado” de dezenas de pessoas, que deram forma aos
carros e roupas desenhados por João Pedro Andrade para o cortejo de
abertura e ao desfile infantil criado por João Mendonça.Mais
de 90 pessoas participam no cortejo de abertura, que retrata o tempo em
que os terrenos onde está hoje instalada a base das Lajes davam trigo, a
chegada dos ingleses e a chegada dos americanos, mas olha também para o
futuro do concelho.“Continuamos a ter um
aeroporto excecional, continuamos a ter terrenos agrícolas muito bons e
temos um mar enorme à nossa frente que não é devidamente explorado, mas
que tem potencial para isso. Eu acho que o desenvolvimento da Praia tem
de assentar nestes três pilares e nos jovens com muito talento, que -
tenho a certeza - vão voltar a fazer da Praia um concelho de futuro e
desenvolvido”, sublinhou Judite Parreira.Segundo
a coordenadora artística, o cortejo destaca três personagens para
homenagear as mulheres que naquela altura começaram a trabalhar fora de
casa e ganharam “uma certa independência económica”: “as empregadas
domésticas, as costureiras e as telefonistas”.A
situação financeira do município da Praia da Vitória, que organiza as
festas, obrigou a uma contenção de despesas, mas “com boa vontade e
muito trabalho” Judite Parreira espera conseguir manter o orçamento do
ano anterior, sem afetar a qualidade dos cortejos.Espera também que as condições meteorológicas não afetem, como em 2022, a adesão da população.“A
nossa baía é muito apelativa, muito convidativa. Temos muitos
emigrantes cá, temos turistas, acho que a Praia vai estar cheia de
gente, mais linda ainda daquilo que já é”, rematou.