Ferro Rodrigues concorda com Marcelo quanto à lei do enriquecimento ilícito
22 de abr. de 2021, 09:46
— Lusa/AO Online
Numa entrevista
ao jornal Público e à Rádio Renascença, Ferro Rodrigues defende que a
lei que existe pode ser melhorada e que tal é possível sem colocar em
causa os princípios da presunção da inocência e da inversão do ónus da
prova.Diz também que a proposta da
Associação Sindical dos Juízes sobre o assunto “é perfeitamente
complementar” e pode melhorar a verdadeira ação contra o que apelida de
“vigarices”.“Com a atual lei já é
obrigatório que os titulares de cargos que referi [deputados, membros do
Governo, autarcas juízes e procuradores] façam as declarações de
rendimento e património. Acontece que há uma Entidade da transparência
que ainda não foi instalada e que depende do Tribunal Constitucional”,
afirma Ferro Rodrigues, acrescentando que “não faz sentido” esta
entidade não ter sido ainda instalada.Contudo,
o presidente da AR sublinha o relatório do grupo internacional que
estuda a evolução da corrupção nos diversos países (Greco), que
considera positiva a evolução de Portugal no que diz respeito ao
cumprimento das recomendações sobre o tema da prevenção da corrupção.“O
que quer dizer que há quem, sem querer, faça o jogo de todos os
populismos, sobretudo os do nacionalismo de extrema-direita, ao estar a
gritar ‘corrupção, corrupção, corrupção’ quando os organismos
internacionais que fiscalizam o Estado e o funcionamento da sociedade
portuguesa não provam nada disso”, afirma.Sobre
as declarações do presidente da Câmara de Lisboa, que afirmou que o
comportamento de antigo primeiro-ministro José Sócrates corrói o sistema
democrático, Ferro Rodrigues recusa comentar, diz que não é comentador
político e que seria “impróprio” que o Presidente da AR se manifestasse
“fosse a que nível fosse” sobre um processo que ainda está a decorrer.“Mesmo em termos políticos ou morais, só me pronunciarei quando ele tiver transitado em julgado”, afirma.Ferro
Rodrigues diz ainda que a atitude do primeiro-ministro sobre este
assunto “foi uma atitude de defesa do PS, como lhe competia”.Sobre
o próximo Orçamento do Estado, Ferro Rodrigues defende que o Governo
deve ser “mais proativo” a negociar com os partidos de esquerda, mas
também a dialogar com o PSD e que quem tiver responsabilidade por
qualquer crise política “vai pagar severamente nas urnas”."Quem
tiver responsabilidade por uma crise política vai pagar severamente nas
urnas essa responsabilidade. O país está numa situação muito grave, não
só por causa da pandemia, mas devido à crise económica. Estamos a viver
um período em que o que era desejável era que a base de apoio das
decisões fosse mais alargada e não menos alargada", afirmou.O
presidente da AR defende igualmente que a pandemia "devia ter levado os
partidos a entenderem-se mais" e a "terem uma base mais forte de
convergência".Defende também que "quanto mais cedo se desdramatizar a viabilidade do próximo Orçamento melhor para o país"."Conviver
com a pandemia, a crise económica, a crise social e um ponto de
interrogação sobre como vai passar o próximo Orçamento seria uma coisa
de evitar o mais cedo possível", afirma.Sobre
o comportamento dos diversos grupos parlamentares nas negociações e
votações do Orçamento do Estado, Ferro afirma: "Há sempre uma coisa que é
perigosa: um ou dois grupos parlamentares votarem de determinada
maneira porque estão convencidos de que outro grupo parlamentar impedirá
uma crise grave de governação"."E isso é
um jogo perigoso. É um jogo em que às vezes se erra e pode conduzir a
uma situação grave para o país e para a democracia nesta fase", insiste.