Férias judiciais começam na terça-feira após ano marcado pelos casos Influencer e Madeira
15 de jul. de 2024, 15:16
— Lusa/AO Online
O ano judicial que agora
termina ficou também assinalado por greves prolongadas dos funcionários
judiciais que, ao longo de meses a fio, ditaram o adiamento de muitas
diligências e sessões de julgamento, tendo o problema ficado
parcialmente resolvido com o recente acordo alcançado pela nova ministra
da Justiça, Rita Alarcão Júdice, com o Sindicato dos Funcionários
Judiciais sobre o suplemento de recuperação processual.
O ano ficou igualmente marcado pelos atrasos no arranque de
julgamentos há muito aguardados como sejam o processo principal do caso
BES/GES, que envolve o antigo banqueiro Ricardo Salgado, o processo
Operação Marquês, que tem o ex-primeiro-ministro José Sócrates como
principal arguido, e o processo Operação Lex por corrupção e outros
crimes, que tem como arguidos o ex-juiz desembargador Rui Rangel e o
antigo presidente da Relação Vaz das Neves, entre outros acusados.
Também pendente para julgamento no Tribunal de Sintra encontra-se o
processo que envolve o antigo deputado do PSD Duarte Lima no caso
relacionado com o homicídio no Brasil em 2009 de Rosalina Ribeiro,
companheira do milionário português já falecido Lúcio Tomé Feteira. O
início do julgamento chegou a estar previsto para novembro de 2022, mas
sofreu adiamentos.Os factos remontam a 07
de dezembro de 2009, altura em que Rosalina Ribeiro, que tinha como
advogado Duarte Lima no processo de herança de Lúcio Tomé Feteira, foi
morta a tiro, tendo o corpo sido encontrado na berma de uma estrada em
Maricá, perto do Rio de Janeiro.Duarte
Lima encontra-se em liberdade após cumprir três anos e meio de prisão no
Estabelecimento Prisional da Carregueira, Sintra, no âmbito da sua
condenação a seis anos de prisão por crime de burla qualificada no
âmbito do caso Homeland, extraído do processo do Banco Português de
Negócios (BPN).O ano judicial que agora
finda fica ainda fortemente marcado pelas críticas à Procuradora-Geral
da República (PGR), Lucília Gago, pela atuação do Ministério Público
(MP) nas investigações do caso Influencer e da Madeira, que no primeiro
caso levou à demissão do ex-primeiro-ministro António Costa alegadamente
por causa do último parágrafo do comunicado da PGR sobre o inquérito,
em cujas buscas foram encontrados mais de 70 mil euros no gabinete de
Vítor Escária, então chefe de gabinete de Costa.As
críticas ao MP e à PGR, que termina o mandato de seis anos em outubro
próximo, ganharam também corpo no chamado Manifesto dos 50, um grupo de
personalidades da política, da justiça e da sociedade civil que veio
reclamar uma reforma da Justiça e pedir medidas contra a violação do
segredo de justiça, bem como uma nova política comunicacional do MP. A
tensão do poder político com a PGR aumentou recentemente após a
ministra da Justiça afirmar ao Observador que era preciso "pôr ordem na
casa" do MP, versão contrariada por Lucília Gago em entrevista à RTP,
num clima que crispação institucional. Entretanto,
o tribunal administrativo de Lisboa vai ter um reforço de 136 juízes
voluntários de todo o país durante as férias judiciais para despachar
processos de autorização de residência de imigrantes, de acordo com o
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (CSTAF).Auscultados
os juízes de todos os tribunais administrativos e fiscais, estes, “de
forma esmagadora”, manifestaram disponibilidade para trabalhar durante
as férias judiciais, indicou o CSTAF, esclarecendo os processos serão
distribuídos de forma aleatória pelos juízes escalados.