Fenprof diz que Ministério da Educação está a "encobrir" situação nas escolas
Covid-19
18 de nov. de 2020, 15:37
— Lusa/AO Online
Em
comunicado, a Fenprof reitera as "exigências de informação sobre
escolas com casos de covid-19 e procedimentos adotados, bem como a
negociação das condições de segurança e saúde nas escolas que tem
caráter obrigatório" e sublinha que o ministro da Educação, Tiago
Brandão Rodrigues, "não está acima da lei"."Foi
necessária a intervenção do tribunal para, finalmente, o ME enviar "uma
(não-)resposta ao que a Fenprof requereu", refere a federação sindical.
Segundo a Fenprof, após semanas sem
responder aos seus repetidos pedidos de informação sobre quais as
escolas em que existem casos de covid-19 e, nessas escolas, que
procedimentos foram adotados face a essa situação, o ME "teve,
finalmente, de enviar uma resposta, na sequência da ação de intimação
interposta junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa".Só
que a resposta recebida, via tribunal, considera a Fenprof, é "uma
não-resposta, assinada por uma licenciada em Direito e não por qualquer
responsável político do Ministério da Educação". "Uma
não-resposta cujos argumentos passam por fazer crer que a Fenprof
pretende obter dados que efetivamente não requereu. Ademais, essa
argumentação vem pôr em causa procedimentos corretos adotados por
escolas, DGAE, universidades, municípios, governos das regiões autónomas
e outras entidades quando, nas mais diversas áreas, têm vindo a
divulgar a existência de casos de covid-19, por exemplo, em lares,
estabelecimentos prisionais, entre profissionais de saúde", adianta.
De acordo com a Fenprof, o ME sustenta a negação da divulgação de
informação alegando que a informação solicitada se relaciona com dados
pessoais relativos à saúde e que seria necessário que os docentes
infetados autorizassem a sua transmissão, sustentando ainda que a mera
designação das escolas já permitiria a identificação das pessoas doentes
pelas comunidades educativas e, acrescenta, nos meios mais pequenos,
pela população em geral. O ME argumenta
ainda, segundo a Fenprof, que esses "dados facilmente extravasariam para
as redes sociais" e alega que a federação sindical já tem uma lista de
escolas que atualiza no seu sítio da Internet.
Para a Fenprof, tal lista é construída com os dados confirmados por
escolas, entidades públicas ou comunicação social, mas "incompleta e sem
informação" relativa a procedimentos e às medidas adotadas em caso de
contágio. "Com esta não-resposta, o ME
continua a encobrir a real dimensão do impacto da covid-19 nas escolas,
mantendo o clima de opacidade que adota desde o primeiro momento,
provavelmente temendo que estas estejam a ser espaço de contágio com
repercussão na comunidade e que, desse facto, venha a ser
responsabilizado pela insuficiência das medidas de segurança sanitária
que, à margem da negociação a que estava obrigado, impôs", conclui a
Fenprof. Segundo a Fenprof, com o intuito
de fugir ao esclarecimento, o governo "não hesita em optar por um
caminho que pode vir a criar problemas às escolas, à DGAE e a outras
entidades, nomeadamente porque muitas escolas "têm e bem" divulgado nos
respetivos sites, redes sociais ou por outros meios a existência de
casos de covid-19, identificando as turmas ou anos de escolaridade.
A Fenprof contrapõe ainda à argumentação do ME que a DGAE, há cerca de
duas semanas, criou "uma plataforma onde as escolas identificam os
casos positivos de covid-19 e casos de quarentena (isolamento
profilático) decorrentes de contactos de risco, determinados e
comunicados pelas Autoridades de Saúde e também identifica os casos
positivos já recuperados”, questionando se aqueles que constituem casos
positivos autorizaram essa identificação.
Entre outras situações, a federação sindical lembra que as instituições
de ensino superior divulgam regularmente boletins epidemiológicos
próprios, onde são identificados os casos e referidas as faculdades e/ou
departamentos e/ou escolas em que se registam casos de Covid-19 e a sua
evolução, o que rebate a argumentação do ME.
A Fenprof conclui assim que a "não-resposta do ME confirma que os seus
responsáveis preferem continuar a encobrir o que realmente se passa nas
escolas, em vez de agirem, como se exigia, de forma clara e
transparente". "Apesar dessa prática de
encobrimento, é indisfarçável que o número de escolas com casos de
covid-19 tem vindo a aumentar de uma forma acelerada, havendo a registar
um número crescente de alunos, professores e trabalhadores não docentes
infetados", denuncia a federação, revelando que dados que recolheu
indicam que já são quase 830 as escolas que tiveram ou têm casos ativos
de covid-19 no presente ano escolar. A
Fenprof diz que é "notório o aumento de casos em professores" e que já
contabilizou "mais de duas centenas", mas alerta que quanto às escolas e
aos docentes estes números são "certamente mais baixos do que os reais,
que continuam a ser escondidos pelo ME" e propõe a criação de um
protocolo que estabeleça procedimentos semelhantes para situações
idênticas, conferindo coerência aos mesmos e pede que sejam realizados
testes a todos os que, nas escolas, estiveram próximos de pessoas
infetadas. Lembra ainda que, apesar de o
governo ter anunciado a realização de testes rápidos nas escolas, estas
"continuam sem receber qualquer informação sobre o assunto", pelo que
insiste na obrigação de os responsáveis do ME cumprirem as leis,
designadamente as que o obrigam a negociar com as organizações sindicais
as condições de segurança e saúde no trabalho e a fornecer informação
sobre a covid-19 nas escolas."É lamentável
que o ME viole a lei, desvalorize os sindicatos e desrespeite os
professores, mas esses também serão motivos que levarão os professores a
lutar", adverte a Fenprof.