Federação Agrícola dos Açores acusa indústria de "asfixiar" produtores de leite
5 de mai. de 2023, 15:59
— Lusa/AO Online
"Os
anúncios da Bel, Prolacto, Unileite e Insulac em São Miguel e da Unicol
na Terceira, embora não sejam uniformes, vêm contribuir para a
desmotivação de uma fileira de grande importância na região, que por
estar em constante pressão e coação, pode vir a sofrer profundas
alterações a médio e longo prazo", refere aquela Federação Agrícola.Ainda
assim, nas restantes ilhas da região, "não foram anunciadas" descidas
do preço de leite, acreditando a Federação que esta situação possa
constituir "uma esperança" para a fileira do leite regional.Numa
nota de imprensa enviada às redações, a Federação Agrícola dos Açores
adianta que "o preço de litro de leite UHT subiu ao consumidor
aproximadamente 40 cêntimos, enquanto aumentou somente 20 cêntimos aos
produtores de leite". De acordo com a
Federação, que é presidida por Jorge Rita, a imagem da fileira "está
mais uma vez posta em causa", com "sucessivas baixas de preço de leite
ao produtor, em maio e junho"."A Federação
Agrícola dos Açores lamenta a estratégia delineada pela indústria de
continua lapidação do preço de leite pago aos produtores, com o anúncio
de várias baixas do preço praticado junto da produção, alegando excesso
de leite e aumento de ‘stock’ dos produtos lácteos, numa fase em que a
maioria dos custos dos fatores de produção continuam altos e em que a
inflação permanece a níveis superiores ao desejado", lê-se no
comunicado. A Federação assinala ainda que
"as subidas em novembro do preço de leite no continente praticadas pelo
Pingo Doce e pela Lactogal, não se repercutiram nos produtores de leite
açorianos"."Por isso, mesmo com as
descidas anunciadas, o diferencial entre o preço médio de leite nos
Açores e o continente é de mais de 10 cêntimos, o que é significativo e
desajustado", aponta.A Federação Agrícola
dos Açores defende que "os elevados lucros" que as indústrias apresentam
no final de cada ano, têm de ser "devidamente distribuídos",
nomeadamente, por quem produz "uma matéria-prima de qualidade", como é o
caso dos produtores de leite dos Açores."A
produção continua a ser o parente pobre da fileira", lamenta a
Federação Agrícola, alertando que as indústrias são "fortemente"
apoiadas pelos fundos comunitários, mas "não têm contribuído para a
melhoria das condições dos produtores de leite".A
Federação Agrícola dos Açores diz que a atual situação "ameaça" a
entrada de jovens no setor, enquanto "muitos" produtores optaram pela
conversão da produção de leite para carne e outros "estão no caminho"
para a redução voluntária da produção de leite. "Este
não é o caminho que pretendíamos, mas a indústria obriga-nos a isso. As
indústrias desempenham uma ação fundamental na economia regional, mas
não podem assentar os seus resultados, única e exclusivamente na sua
relação com a produção. Sem agricultores, não há agricultura, e sem
isso, não há negócios nesta área", defende.