Autor: Lusa/AO Online
Num relatório técnico divulgado por aquela associação empresarial, alerta-se que o “desaparecimento” da Azores Airlines, cuja privatização está a ser negociada, é um “risco sistémico que afetaria o conjunto do tecido económico açoriano”.
“O colapso da SATA Internacional (…) teria um impacto económico total estimado de 1.266 milhões de euros, correspondendo a mais de um quarto do PIB [Produto Interno Bruto] regional e a metade das receitas anuais da Região Autónoma dos Açores”, lê-se no estudo enviado à comunicação por aquela associação empresarial.
O relatório salienta que os cerca de 1,27 mil milhões representam o “conjunto das perdas diretas e indiretas associadas ao colapso”, defendendo que o encerramento da companhia “não seria apenas um problema empresarial, mas um choque económico e social de grande escala”, com “efeitos imediatos na mobilidade, turismo, receita fiscal e emprego”.
A análise estima que o fecho da transportadora implicaria a perda de 815 postos de trabalho diretos e o “risco de colapso parcial” da outra companhia do grupo, a SATA Air Açores, responsável pelas ligações interilhas.
Além disso, o fecho da empresa levaria à “destruição de 436 milhões de euros em ativos e capitais próprios”, a “transformação de 75 milhões de garantias regionais em dívida pública” e à quebra de 20% do fluxo turístico da região.
“Mesmo após três anos, cerca de 40% das perdas iniciais manter-se-iam sem compensação, sublinhando a gravidade e persistência do risco para a economia açoriana”, alerta a Câmara de Comércio.
Em causa poderão ainda estar outras “consequências estruturais”, como a “erosão da confiança externa”, a “descontinuidade das exportações regionais rápidas”, o “aumento do isolamento” e a “pressão orçamental acrescida” sobre o Governo Regional.
O relatório sugere a conclusão do processo de privatização, o “isolamento” jurídico da SATA Air Açores, a criação de um Fundo Regional de Estabilização da Mobilidade e de um Plano de Contingência para o Setor Aéreo.
A Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo defende que a privatização é a “única via possível para salvar a companhia” e apela a que “prevaleça o interesse dos Açores sobre qualquer interesse pessoal e obscuro”.
“Importa manifestar a enorme preocupação com a intenção de solicitar à Comissão Europeia um prolongamento do prazo do processo de privatização, com o intuito de abrir espaço a uma negociação direta”, lamenta.
A associação empresarial, que critica o papel da classe política, das administrações e dos sindicatos no estado atual da companhia, considera “evidente” que a região vai ter de assumir o passivo da empresa.
“O pagamento da dívida e a assunção de eventuais indemnizações por erros de gestão cometidos constituem, neste momento, o mal menor para os Açores e, em nosso entender, o único caminho possível, de forma a evitar maiores problemas futuros para a região”, salienta a organização liderada por Marcos Couto.
O júri do concurso da privatização exigiu ao consórcio Newtour/MS Aviation que apresente até 24 de outubro uma proposta para a compra da Azores Airlines, revelou à agência Lusa, a 13 de outubro, fonte ligada ao processo.
Em junho de 2022, a Comissão Europeia aprovou uma ajuda estatal portuguesa para apoio à reestruturação da companhia aérea de 453,25 milhões de euros em empréstimos e garantias estatais, prevendo medidas como uma reorganização da estrutura e o desinvestimento de uma participação de controlo (51%).