Fé e emoção no regresso do Santo Cristo às ruas de Ponta Delgada

23 de mai. de 2022, 00:00 — Paulo Faustino/Lusa

Após dois anos de limitações devido à pandemia de Covid-19, a Procissão, o momento maior das festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, voltou a cumprir-se ontem à tarde, com a Imagem a percorrer as principais ruas da cidade de Ponta Delgada.   Eram cerca das 16h30 quando o Ecce Homo saiu do Convento da Esperança para integrar a procissão, num trajeto que durou várias horas. A instabilidade meteorológica não demoveu minimamente milhares e milhares de pessoas, entre micaelenses, emigrantes e devotos do resto da Região e do país, que incorporaram ou assistiram ao cortejo. Muitos deles aplaudiram ou simplesmente comoveram-se com a Imagem do Senhor Santo Cristo, de rosto dorido e misericordioso, mas também repleto de serenidade, como que a dizer aos que ainda sofrem - “Eu estou contigo”.Este ano, o Ecce Homo saiu à rua com uma capa oferecida por um casal natural da Ribeira Grande a residir nos EUA e realizou um percurso que, acompanhado musicalmente por várias bandas filarmónicas, passou pelos antigos conventos da cidade e por algumas igrejas paroquiais, percorrendo - como é costume - ruas cobertas de tapetes de flores. No essencial, as mesmas ruas de há mais de 300 anos, quando a Venerável Madre Teresa d’Anunciada determinou um giro de passagem por todos os conventos e igrejas em devoção ao Santo Cristo.Num grandioso testemunho de fé, a Procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres voltou a juntar um ‘mar’ de gente na busca de uma graça ou no cumprimento de uma promessa. Momento alto ontem foi também o do recolhimento da Imagem no Santuário da Esperança, altura em que as filarmónicas entoaram o hino do Santo Cristo e se sentiu de forma particularmente viva a ‘chama’ da fé.Tapetes de flores voltaram a colorir Ponta DelgadaJosé Cabral, que colabora há cerca de 20 anos na construção de tapetes de flores para a procissão do Santo Cristo, que ontem voltou às ruas de Ponta Delgada, considerou-se “privilegiado” por enfeitar “os caminhos do Senhor”.Além dos privados, empresas, comerciantes e diversas entidades asseguraram a cobertura de todo o percurso da procissão com tapetes de flores.Apesar da chuva que se registou ontem, as horas que precederam a saída da procissão do Santo Cristo foram de grande azáfama com a construção dos tradicionais tapetes de flores, que voltaram a colorir a cidade de Ponta Delgada, em São Miguel.Rodeado de sacos, aparas de madeira coloridas e ramos verdes de criptoméria, José Cabral admitiu à Lusa que as condições meteorológicas “não ajudaram muito este ano”.“São aparas de madeira de pinho, porque assim a cor fica mais viva. Vieram da freguesia das Furnas”, explicou, apontando para a existência das cores rosa, roxo e amarelo que foram depois colocadas nos moldes de madeira.Na Rua Caetano Andrade Albuquerque, o tapete de flores para a procissão teve mais de 100 metros, garantiu à Lusa Gustavo Oliveira, que também colabora na construção dos tapetes “há 16 anos”.O trabalho de preparação do tapete de flores começou cedo.“Venho logo de manhã para enfeitar. Isto é uma missão. Quem faz por gosto não cansa”, explicou Gustavo Oliveira, acrescentando que a realização destes tapetes demora “entre duas a três horas”.As festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres, consideradas a segunda maior manifestação religiosa do país depois das peregrinações a Fátima, levam anualmente milhares de peregrinos até à ilha de São Miguel.As festas, que se iniciaram na sexta-feira e decorrem até quinta-feira (dia 26), têm por referência a imagem do “Ecce Homo”, tendo por base o quinto domingo a seguir à Páscoa.