Fazer uma romaria é como subir uma escada da qual “temos de voltar melhores”

16 de fev. de 2024, 09:22 — Rui Jorge Cabral

Márcio Peixoto tem 45 anos e é funcionário administrativo na Junta de Freguesia da Ribeira Quente. Márcio esteve ligado ao ressurgimento do rancho da Ribeira Quente, em 2001, tendo desempenhado a função de mestre do rancho durante mais de uma década. Nos últimos dez anos, Márcio Peixoto passou a desempenhar a função de Procurador das Almas. Em declarações ao Açoriano Oriental, Márcio Peixoto afirma que “o Procurador das Almas é o último do rancho e é aquele com quem as pessoas vão contactando e perguntando o número de romeiros no rancho”, ao mesmo tempo que “recebe e contabiliza as orações” pedidas pelas pessoas. No entanto, salienta Márcio Peixoto, o Procurador das Almas vai “muito para além da contabilidade das orações”, uma vez que “temos de ter tempo para conversar e tempo para ouvir as pessoas, com as suas dificuldades e necessidades”, ao ponto de muitas vezes ter de andar a ‘correr’ para voltar a apanhar o rancho, que entretanto se adiantou na estrada. O Procurador das Almas do rancho da Ribeira Quente lembra que esta é uma “função muito gratificante porque ouvimos histórias muito difíceis, mas também histórias de agradecimento, de doenças e perdas de familiares, mas também de milagres, somos um pouco os confidentes das pessoas”. Márcio recorda mesmo um pedido de uma mulher idosa, que tinha acabado de enviuvar e que pedia que o rancho rezasse para que o seu filho, portador de deficiência, não ficasse sozinho no mundo quando ela também falecesse. Mas também já aconteceu a Márcio Peixoto entrar em casa das pessoas para falar com doentes acamados para recolher as suas orações, normalmente o Pai-Nosso e a Ave-Maria. No fim da última romaria, Márcio tinha contabilizado centenas de orações pedidas ao Procurador das Almas. Sobre o que significa para si ser romeiro, Márcio Peixoto conclui afirmando que se trata de um “encontro” com Jesus e com cada um dos irmãos do rancho, simbolizando a romaria como uma escada em que se sobe sempre mais um degrau e da qual “temos de voltar melhores pais, melhores filhos, melhores esposos, melhores cidadãos e melhores cristãos”.