Farmacêuticos hospitalares voltam à greve surpreendidos por "silêncio" do Governo
15 de nov. de 2022, 12:15
— Lusa/AO Online
Em
declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato Nacional dos
Farmacêuticos (SNF), Henrique Reguengo, disse que estes profissionais
estão descontentes e surpreendidos pelo "silêncio do Governo".“É
absolutamente surpreendente o que está a acontecer”, disse o
responsável, sublinhando que, na primeira greve de sempre, em outubro, o
sindicato registou 93% de adesão e que, agora, com a falta de contacto
do Governo, estes números podem aumentar.Diz
que, uma vez que este segundo período de greve já estava anunciado em
outubro, “dava mais do que tempo para o Governo mostrar que estava
preocupado com a situação e que tencionava fazer alguma coisa",
sobretudo "quando está a ser discutido no parlamento o Orçamento do
Estado para o próximo ano”.“A palavra
farmacêutico, como profissional, não aparece uma única vez [no texto do
orçamento]. Vai às medidas do governo e estão lá as negociações com
médicos, com enfermeiros, criações de novas carreiras e a palavra
farmacêutico não aparece”, lamentou Henrique Reguengo, lembrando que a
anterior equipa da Saúde tinha reconhecido, no verão, os problemas
destes profissionais e que era preciso resolver.Diz
não compreender o que classifica como “falta de abertura para negociar”
com os farmacêuticos por parte do Governo, manifestando, contudo,
esperança de que o ministro esteja a fazer “as diligências necessárias”
para poder apresentar uma proposta a estes profissionais.Os
farmacêuticos dos serviços públicos de saúde exigem a revisão das
grelhas salariais, que datam de 1999, e a contagem integral do tempo de
serviço para progressão na carreira.A
greve abrange todos os serviços de saúde dependentes dos ministérios da
Saúde, Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e Defesa Nacional,
assim como nos Açores e na Madeira.O
sindicato, além da valorização profissional e da contagem integral do
tempo de serviço no SNS para efeitos de promoção e progressão na
careira, exige também a vinculação efetiva dos farmacêuticos a exercer
no serviço público com contratos precários e a adequação do número de
profissionais às reais necessidades e complexidade das atividades
desenvolvidas.No pré-aviso de greve, o
sindicato pede igualmente o reconhecimento e homologação, por parte do
Ministério da Saúde/Administração Central do Sistema de Saúde, dos
títulos de especialista atribuídos pela Ordem dos Farmacêuticos, assim
como a definição e regulamentação “de processo especial e transitório
para regularização do acesso à especialidade/residência farmacêutica por
parte dos farmacêuticos contratados após 01 de março de 2020”.Henrique
Reguengo lembra ainda os 25% de carência destes profissionais no SNS –
valores identificados num estudo da Universidade Nova – e insiste: “Nós
não podemos adiar consultas. Cheguem-nos 10 utentes, cheguem-nos 100,
nós temos de, com os farmacêuticos que estão nessa altura, suprir as
necessidades”.
“É óbvio que isto faz com que as pessoas estejam continuamente nos
serviços sob pressão. E isto é mau para os farmacêuticos, mas também mau
para os utentes, porque é indutor de erros”, insiste o responsável,
acrescentando: “E nós tanto fazemos coisas mais simples, como fazemos
quimioterapia”.