Famílias das vítimas com esperança numa condenação no recurso no Supremo
Meco
2 de dez. de 2022, 12:09
— Lusa/AO Online
“Estou certo de que o
STJ vai repor a justiça neste processo e vai condenar a universidade e o
João Gouveia e esta decisão, a meu ver, vai ser exemplar para o futuro,
na medida em que as próprias universidades não podem simplesmente fazer
como fazem agora, lavar as mãos deste tipo de condutas, que vão
permitindo sem nada fazerem”, disse à Lusa o advogado das famílias das
vítimas, Vítor Parente Ribeiro.O advogado
reagia à decisão do STJ conhecida, de aceitação do recurso de
revista excecional, após a Relação de Évora ter considerado em julho o
recurso improcedente.Segundo a decisão
proferida na quarta-feira pelos conselheiros Maria Clara Sottomayor,
António Oliveira Abreu e João Cura Mariano, a que a Lusa teve hoje
acesso, os juízes reconheceram que este processo “dispensa qualquer tipo
de apresentação” e lembraram a “significativa projeção mediática, não
só pelo seu desfecho trágico, mas também pelo contexto em que os factos
ocorreram”, aludindo ao âmbito das praxes académicas.Em
causa está o acórdão do Tribunal da Relação de Évora de 07 de julho
deste ano, que não deu provimento ao recurso da decisão do Tribunal de
Setúbal que, em 14 de outubro de 2021, absolveu o ex-‘dux’ João Miguel
Gouveia e a Universidade Lusófona de eventuais responsabilidades pela
tragédia que ocorreu em 15 de dezembro de 2013, que provocou a morte a
seis jovens. As famílias reclamavam uma indemnização de 1,3 milhões de
euros.“O caso dos autos assume uma
significativa relevância social, sendo evidente que a intervenção deste
Supremo Tribunal contribuirá para a clarificação do melhor enquadramento
jurídico a dispensar a casos que apresentem semelhanças”, pode ler-se
na decisão do STJ, que justificou também a sua decisão com a “relevância
jurídica” das questões decorrentes deste caso.Para
Vítor Parente Ribeiro, esta decisão é “uma pequena vitória” e uma
“janela que se abre com alguma esperança para os pais”, uma vez que a
decisão do STJ, se favorável, anula as anteriores.“É
para nós um motivo de grande esperança e de grande satisfação por ver
que o STJ entendeu que os argumentos que os pais apresentaram eram
relevantes e que mereciam de facto uma melhor e maior ponderação. […]
Acho que esta decisão e este tipo de processo vai ser exemplar para o
futuro de milhares e milhares de jovens e para repor alguma ordem
naquilo que se passa na praxe”, disse o advogado.Vítor
Parente Ribeiro explicou que aquilo que o STJ vai analisar é matéria de
direito (aplicação da lei) e não de facto (factos dados como provados e
não provados), debruçando-se nomeadamente sobre “questões de natureza
jurídica ao nível da responsabilidade civil, contratual e
extracontratual, quer da universidade, quer do João Gouveia”.“O
STJ vai tentar analisar e perceber se há a possibilidade de aplicação
de um melhor direito àqueles factos que resultaram provados”, disse.Ver o STJ defender que este caso “merece ser ponderado até para situações futuras” deixa o advogado esperançoso.“Agora
é esperar, os pais estão com muita fé e muita confiança de que
finalmente vão ter uma decisão que vá ao encontro da luta que tiveram ao
longo destes quase 10 anos, já vai fazer nove anos que os filhos
faleceram. Sentem que a luta que travaram ao longo de quase uma década
está a chegar ao fim, mas que lhes vai ser favorável e que vão ter uma
decisão que minimamente reponha a justiça que pode ser reposta num caso
como este”, concluiu.