Autor: Lusa/Aonline
“Está a ser difícil adaptar-nos, os meninos estão a ficar doentes, mas a gente está com esperança de voltar para trás”, confessou Marília, a filha mais velha do casal Paulo e Maria Irene Sebastião, o único membro da família de dez pessoas de três gerações que acedeu falar à agência Lusa.
Com uma criança de colo nos braços, a jovem de 27 anos admitiu que o pior é a falta de emprego, sublinhando que “por enquanto, não há nada”, apenas a indicação de que se devem inscrever “nos serviços de emprego e esperar”.
“Para os meus pais, ao fim de 10 anos [no Canadá] e com a idade que já têm, começar tudo de novo é muito difícil”, frisou, alegando terem ficado sem nada, pois, “embora com casa, não têm trabalho”.
Apesar de não viver na localidade de origem da família, Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande, onde vivia antes de rumar ao Canadá, Marília admitiu que a Ribeira Seca, também naquele concelho, é uma “freguesia linda”, se bem que se depare com a dificuldade de “não saber onde é que muita coisa está”.
Relativamente à relação com a vizinhança, salientou que a família “ainda não viu ninguém, ainda está a arranjar coisas dentro de casa”, acrescentando que também está a tratar de enviar as crianças para a escola.
A filha mais velha do casal espera ser a primeira do grupo de 10 membros da família a regressar ao Canadá com os seus dois filhos, pois o marido – um cidadão turco em condição legal - já lhe fez a “carta de chamada” que permitirá regularizar a sua situação naquele país.
Mas, até que isso aconteça, reconheceu que não espera tempos fáceis, o mesmo acontecendo com os seus pais e irmãos.
“Não está nada fácil”, frisou, acrescentando que, para agravar a situação, a mãe está adoentada e um dos filhos “esteve esta noite no Hospital [de Ponta Delgada] de onde veio carregado de remédios”.
As autoridades do Canadá determinaram a deportação de seis elementos da família Sebastião - os pais (Paulo e Maria Irene, de 46 e 44 anos) e quatro filhos (Marília, 27, Vanessa, 23, Paulo Júnior, 19, e Beatriz, 13), considerando a sua permanência ilegal no país.
Os restantes quatro elementos, netos de Paulo e Maria Irene, todos com menos de cinco anos, são cidadãos canadianos por terem nascido nesse país, mas acompanharam os pais, embora possam voltar a qualquer altura ao Canadá.
As autoridades portuguesas intercederem junto das entidades governamentais de Otava para tentar evitar esta deportação, que, não sendo única no que se refere aos Açores, ganhou especial relevância face ao elevado número de pessoas da mesma família envolvidas.
Para acolher a família, o Governo Regional dos Açores disponibilizou uma casa na Ribeira Seca, concelho da Ribeira Grande.