Faltam progressos significativos para problema do clima
3 de nov. de 2017, 16:23
— Lusa/AO online
Especialista em
alterações climáticas, Filipe Duarte Santos disse hoje à agência Lusa
que "os progressos que se fizeram não são extraordinários", mas realçou
que o Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de
estufa foi "realmente um avanço significativo", porque conseguiu um
consenso entre praticamente todos os países do mundo em torno de um
problema que "está a tornar-se cada vez mais ameaçador", sobretudo para
as gerações futuras. O Acordo de Paris, conseguido em dezembro
de 2015, entrou em rigor a 04 de novembro de 2016 e pretende reduzir as
emissões de gases com efeito de estufa para enfrentar as alterações
climáticas que aumentam a frequência de fenómenos extremos, nomeadamente
de calor, mas também avançar na adaptação. Filipe Duarte
Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (CNADS), recordou que a ratificação do Acordo foi "de certo
modo uma surpresa", por ter conseguido a adesão de tantos países. Agora
é preciso que os países "efetivamente demonstrem quais são as medidas
que estão a tomar no sentido de reduzir as emissões", ou seja, de
cumprir os compromissos a que se propuseram e "os avanços têm sido não
muito audaciosos", explicou. O conjunto dos compromissos de
redução de emissões apresentado em Paris não é suficiente para limitar a
subida da temperatura média global a 2º celsius relativamente ao
período pré-industrial, nível a partir do qual os cientistas consideram
que os efeitos das alterações climáticas serão muito graves. Alguns
países não quantificaram os seus compromissos, o que torna difícil a
estimativa, mas ainda assim, o professor jubilado da Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa referiu que, com as reduções
definidas atualmente, haverá uma subida de "cerca de 3º ou mais". Por
isso, defendeu a sensibilização dos países para serem mais ambiciosos
nos compromissos de redução de emissões e espera que na próxima
conferência da ONU para o clima, que começa na segunda-feira em Bona, na
Alemanha, "se consiga avançar nesse sentido". Alguns países
estão a trabalhar para cumprir Paris, como a União Europeia que tem um
plano para "reduzir drasticamente", até 80%, as emissões até 2050.
Portugal fixou o objetivo de ser um Estado neutro em carbono naquele
ano. O objetivo do Acordo de Paris é que as emissões globais de
gases com efeito de estufa, sobretudo de dióxido de carbono, se reduzam a
praticamente 5% do que eram em 1990". "É um objetivo muito difícil, mas é possível", defende o cientista. Filipe
Duarte Santos apontou como positivo o crescimento da utilização das
energias renováveis em todo o mundo, principalmente a solar, apesar de
ainda representarem uma parcela pequena das fontes primárias de energia. "O custo das células fotovoltaicas tem baixado muito, tornando-as competitivas com outras formas de energia", especificou. A
decisão do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar o
país do Acordo de Paris "vai dificultar a sua aplicação, mas os
diferentes estados federais têm políticas muito diversas" e a Califórnia
é um exemplo de ações para uma transição energética para uma economia
de baixo carbono, defendeu o especialista. A saída dos EUA do
Acordo "é deplorável, mas não significa que os estados não se encaminhem
no sentido de reduzir as suas emissões", e vai isolar aquele país no
mundo já que, até a Nicarágua que não tinha assinado o Acordo, já disse
que o vai ratificar, resumiu Filipe Duarte Santos.