Autor: Arthur Melo
O Governo Regional dos Açores adquiriu a máquina no Brasil e instalou-a no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, por ser a ilha “onde há um maior número de casos que possam vir a beneficiar, de imediato, dos tratamentos que serão realizados”, justificou na ocasião Mónica Seidi, a secretária regional da Saúde.
Todavia, e apesar de estar “operacional”, os tratamentos nunca foram iniciados, como denunciaram ao Açoriano Oriental familiares de doentes com a doença de Machado-Joseph.
Questionado sobre os motivos pelos quais os tratamentos não tinham sido iniciados, uma vez que o aparelho está instalado desde maio, o grupo de formandos da neuromodulação do HDES justificou a situação com o facto de ainda aguardar pela chegada de um software necessário para a realização do tratamento.
“O aparelho encontra-se operacional, no entanto está em falta software necessário para o tratamento da Doença de Machado-Joseph. Este software está em processo de aquisição”, informou o HDES, em resposta ao AO.
A neuromodulação é um procedimento onde é usada a estimulação elétrica ou administração de medicação, aplicados diretamente em estruturas do cérebro ou da medula com propósito terapêutico e embora não traga a cura da doença, tem um impacto muito significativo na melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
A instalação do aparelho gerou uma elevada onda de expectativa entre os doentes de Machado-Joseph na ilha de São Miguel, que vão ter de continuar a aguardar, por mais algum tempo, pelo início dos tratamentos.
O processo de formação de profissionais de saúde para operar a máquina, adianta o HDES, “encontra-se concluído”, mas aquela unidade hospitalar adverte que a carência de profissionais impede que os formandos possam dedicar-se em exclusivo a esta técnica que é tida como um “tratamento inovador”.
“O número de formandos seria suficiente, contudo, tendo em conta que existem funções / áreas de atuação da competência destes profissionais, que não poderão ser descuradas, não há possibilidade de dedicação exclusiva a esta técnica. Realçamos que o serviço de Medicina Física e de Reabilitação já se encontrava com carência de profissionais”, revela o esclarecimento do HDES.
O curso ministrado pelo HDES contou com uma carga horária de 70 horas e “reunidas todas as condições necessárias (software e recursos humanos) iniciar-se-á a prescrição desta técnica, sempre que clinicamente indicado”, finaliza o comunicado do hospital micaelense.
Para além da doença de Machado-Joseph, que possui uma grande prevalência nos Açores, nomeadamente nas ilhas de São Miguel e Flores, outras patologias podem beneficiar deste tratamento, sendo que nem todos os pacientes reúnem condições clínicas para usufruir da neuromodulação não invasiva.
A especialista Carolina Souza, em declarações prestadas à Agência Lusa, referiu que a técnica “contribui para a melhoria do equilíbrio e da postura, maior independência para caminhadas, fala e deglutição”.
“Em relação a outras doenças, a neuromodulação não invasiva tem um nível de evidência importante para a depressão, AVC [acidente vascular cerebral], casos de doença de Parkinson e para tratar tanto os doentes motores, como sintomas cognitivos”, afirmou a especialista.