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Espanha
Falta de água em Barcelona muda hábitos e mentalidades
A escassez de água em Barcelona obriga a alterar mentalidade e hábitos e os seus quase cinco milhões de habitantes são obrigados a tomar consciência e adoptar medidas para não desperdiçar este líquido precioso.

Autor: Ricardo Chega, Lusa / AO online
Sem chuva e com as barragens a registarem o seu nível mínimo, os catalães não poderão lavar os seus automóveis, encher piscinas, regar jardins e hortas, lavar quintais ou tomar três ou quatro banhos ao dia.

    O jornalista catalão Daniel Solano confessou à agência Lusa que “a escassez de água é verdadeiramente preocupante, mais do que as pessoas julgam. O único lado positivo é a tomada de consciência por parte da administração e da sociedade”.

    Na opinião de Solano, “na Catalunha nunca nos preocupámos com os nossos recursos naturais. Sempre desperdiçámos”, por isso “é urgente mudar mentalidades”.

    Convencido de que “muitos estão acostumados a viver desperdiçando a água”, Daniel Solano mostrou-se de acordo com as multas, restrições e proibições que o governo catalão impôs aos cidadãos que desperdicem água e que podem ir até aos 3.000 euros.

    Daniel Solano acha que todos os catalães “gostariam de ter uma vivenda com piscina, muita água para regar grandes jardins, lavar os seus carros, lavar os seus animaizinhos, lavar quintais. Mas agora tudo isso acabou”.

    O que não se pode fazer agora - lembrou – é apelar à solidariedade das regiões que tiveram o cuidado de poupar água.

    “Sempre desperdiçámos e agora pedimos que aqueles que pouparam sejam solidários connosco. Teríamos que ser mais previdentes”, disse Solano.

    O jornalista partilha um apartamento com mais cinco pessoas, onde a factura de água é, em média, de 30 euros por mês.

    E já começou a tomar as suas medidas preventivas: “reparei as torneiras que perdiam água, coloquei sistemas, sobretudo na casa de banho, para poupar água, lavo a louça sem a torneira sempre aberta, lavo-me uma vez ao dia quando antes eram três e o meu duche dura menos de 10 minutos, lavo os dentes e controlo a torneira, lavo roupa na máquina uma vez por semana: uma de roupa branca e outra escura, não lavo o carro, nem o cão, nem os jardins. Trata-se de ser consciente e saber que sem água a vida é impossível”.

    E é assim que muitos catalães já começaram a viver. Já se nota na paisagem que há jardins a secar. Há quem vá com o coração apertado deitar água comprada em garrafão no vaso com a planta preferida, mas os canteiros podem estar condenamos à morte se não chover.

    Já não se vêem nos pátios e quintais as mangueiras a lavar carros, nem a jorrar água para tirar o pó do chão.

    Uns fazem-no simplesmente por medo às multas, mas outros já começaram a tomar consciência de que cada gota que pouparem pode vir a fazer falta amanhã.

    E na esfera privada só os que já tomaram consciência conseguem poupar. Dentro de casa não é tão iminente o risco de multa. Há quem não encha a piscina porque alguém vai ver e denunciar, mas “enche a banheira porque ninguém vê”, admite Solano.

    Para essas situações, a medida equacionada pelo governo é aumentar o preço da água. Mas a polémica dos interesses económicos já se faz sentir. “A sociedade está contra o negócio da água. A água é de todos e ninguém se pode apropriar de um bem tão escasso e valioso, essencial à vida humana”.

    O que é certo é que há restaurantes que já pretendem cobrar o jarro de água que põem na mesa às refeições.

    Daniel Solano considera que, “perante uma situação tão grave, além de sancionar, é preciso controlar”. E propõe que “fechem as fábricas onde se engarrafa a água, controlem mais as petroquímicas, os campos de golfe e os locais onde se usa a água para fazer negócio, as máquinas e locais para lavar carros”.

    Para o jornalista, uma prova de que “nunca houve bom senso” é que “os parques públicos não estão povoados com plantas mediterrânicas”.

    Mesmo assim, a administração já deu o exemplo e já se vêem as rotundas com fontes desligadas.

    Em nome do aproveitamento de água, Daniel Solano apela aos políticos para que “digam a verdade e assegurem que vai mudar o sistema”.

    Para já, estão a ser divulgados pelos cidadãos “gestos para poupar água”. Lavar os dentes com um copo e sem a torneira aberta e deitar água no lavatório para lavar a cara, as mãos ou para barbear fará poupar “12 litros por minuto”. Usar um recipiente próprio para papéis e não a sanita. Fechar a torneira de segurança. Consertar as torneiras que pingam ou substitui-las, dispositivos de poupança nas torneiras e chuveiros fará “reduzir o consumo em cerca de 50 por cento”. Utilizar a máquina de lavar roupa e louça com a carga completa e o programa adequado porque “quando se lava à mão gasta-se 40 por cento mais de água”. Instalar uma cisterna com sistema adequado a poupar “reduzirá para metade o consumo de água” e tomar duche em vez de banho de imersão e fechar a torneira enquanto a pessoa se lava “fará poupar em média 150 litros de cada vez”.