Faculdades e alunos preparam final de semestre com época de exames diferente
Covid-19
29 de mai. de 2020, 10:13
— Lusa/AO Online
A pandemia da Covid-19 obrigou os alunos do Ensino Superior a trocarem, em março, os
‘campi’ das suas faculdades e politécnicos pelas suas casas e, apesar de
algumas instituições já terem retomado parte das atividades letivas
presenciais, o ensino continua a fazer-se maioritariamente à distância.À
medida que se aproxima o final do segundo semestre, as instituições
ultimam os preparativos para a habitual época de exames, que este ano se
realiza em circunstâncias excecionais, com soluções que vão desde
exames escritos, avaliações orais por videoconferência ou exames
presenciais, com as regras a que o contexto atual obriga. Na
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL), o modelo que
está em cima da mesa para a época de exames, que arranca na
segunda-feira, é o de provas escritas, síncronas, com vigilância através
da plataforma de videoconferência Zoom.“Nenhum
modelo vai ser consensual, vai sempre haver pessoas descontentes com
qualquer alternativa que seja apresentada”, disse à Lusa uma aluna da
FFUL, Patrícia Simões, explicando que alguns colegas não concordam com a
gravação do exame, que dizem pôr em causa o Regime Geral de Proteção de
Dados.Nesta faculdade, os exames finais
vão ser feitos através da plataforma de ‘e-learning’ Moodle, mas os
alunos devem estar, em simultâneo, conectados numa chamada de vídeo, que
será gravada, para assegurar a credibilidade da avaliação e evitar
fraudes.“Isto já acontece desde o início
das aulas ‘online’, todas as aulas são gravadas e nunca ninguém levantou
problemas em relação a isso”, contou a aluna do mestrado integrado em
Ciências Farmacêuticas, explicando que, depois de algumas queixas, a
questão está a ser avaliada pelo Conselho Pedagógico.Esta
alternativa é aquela que, sendo à distância, mais se assemelha aos
habituais exames presenciais e, como a FFUL, também a Faculdade de
Medicina da UL ou as faculdades de Economia, Medicina e de Direito da
Universidade Nova de Lisboa (UNL) vão privilegiar o modelo síncrono.“A
Nova está a garantir tudo aquilo que já tínhamos antes”, elogiou Márcia
Pires, aluna do mestrado em Direito e Tecnologia, contanto que mesmo o
anonimato dos exames, que antes era assegurado na realização das
avaliações presenciais na Faculdade de Direito, se mantém, através de
uma aplicação que atribui números de código ao título dos documentos.Mesmo
nesta fase, as instituições mantém-se atentas às dificuldades dos
estudantes no acesso a computadores e Internet, e, por isso, muitas
permitem que os alunos que não tenham condições para fazer os exames
síncronos em casa o possam fazer no ‘campus’, através dos equipamentos
da escola. “Quem tiver este tipo de
dificuldades comprovada poderá fazer os exames aqui na escola, ao mesmo
tempo que os colegas estarão a fazer o exame em casa, desde que
cumprindo as medidas de distanciamento social e higienização
recomendadas pelas autoridades de saúde”, confirmou a Faculdade de
Medicina, uma das muitas a propor esta alternativa.Para
João Barreiros, o problema da ligação à Internet só se colocou uma vez,
durante a única avaliação oral ‘online’ que teve até à data, já que no
mestrado em Direito Fiscal, da Universidade Católica Portuguesa (UCP),
em que João está a concluir o primeiro ano, os professores têm optado,
sobretudo, por outro modelo, assente numa avaliação assíncrona escrita.“A
maioria das avaliações está a ser feita via escrita e os professores ou
optam por fazer um exame e dão tempo para a resolução, seja um dia
inteiro ou até uma semana, ou propõem um trabalho”, explica, sublinhando
que, no seu caso, estes elementos fazem parte da avaliação contínua,
uma vez que não existem exames finais.À
semelhança do curso de João Barreiros, a maioria das avaliações na UCP
será ‘online’, mas a Católica é uma das instituições que retomou, em
maio, algumas atividades letivas presenciais e, nesses casos, a
avaliação será também presencial.“Nestes
casos, os exames decorrerão nos espaços da escola que permitam respeitar
as normas de distanciamento social”, adiantou a instituição à Lusa,
assegurando que todas as medidas de segurança serão cumpridas.Os
alunos da UCP são dos poucos que vão poder voltar aos ‘campi’ para
fazer os habituais exames finais, à moda antiga, mas não são os únicos.Também
na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa
(FCT-UNL) essa será uma possibilidade a partir da próxima semana e a
instituição prevê que cerca de 60% dos exames sejam presenciais.No
ISCTE, a 1.ª época de exames também será mista e os coordenadores de
cada disciplina poderão decidir pelo modelo ‘online’ ou por provas
presenciais, que se têm realizado na ampla sala de estudo do ‘campus’.
No entanto, por considerar que “a
avaliação por exame é um direito de todos os estudantes inscritos nos
cursos do ISCTE”, a reitoria, liderada por Maria de Lurdes Rodrigues,
decidiu que a avaliação na 2.ª época será integralmente presencial e,
para isso, reservou 12 salas nas instalações da Feira Internacional de
Lisboa (FIL), que vão começar a ser utilizadas a partir de
segunda-feira.“A opção pela modalidade de
avaliação presencial na 2.ª época e na época especial justifica-se pela
necessidade de garantir um momento que ofereça a todos os estudantes uma
oportunidade de avaliação em igualdade de condições”, afirma a
instituição.Entre os três estudantes
universitários ouvidos pela Lusa, nenhum terá exames presenciais e
aplaudem a decisão das faculdades nesse sentido.“É
complicado garantir todas as medidas de segurança e também não estava
disposto a fazer exame com os constrangimentos atuais. Ainda por cima,
agora no verão, estar a fazer o exame com máscara, com o calor… não”,
afirma João Barreiros, considerando que, apesar de preferir a avaliação
presencial, a alternativa tem funcionado bem.Já
Patrícia Simões admite que os exames presenciais permitem ultrapassar
algumas dificuldades que estão a ser agora levantadas, quando se
preparam as avaliações ‘online’, mas concorda que, no contexto atual,
esta é a melhor alternativa, referindo que muitos colegas regressaram a
casa depois de saber que as aulas presenciais não seriam retomadas.“No
geral, acho que a faculdade está a fazer um esforço enorme para que os
exames à distância sejam o mais semelhante possível aos exames
presenciais, que haja uma uniformidade. Isto é uma situação totalmente
excecional e portanto acho que apesar de tudo estão a agir sinceramente
bem”, elogiou a estudante de Ciências Farmacêuticas.