Extrema-direita regista resultado histórico nas legislativas
França/Eleições
20 de jun. de 2022, 13:21
— Lusa/AO Online
Após uma
campanha tímida por parte de Marine Le Pen – que, em maio, tinha dito
que a "lógica das instituições dita que o Presidente da República tenha
uma maioria" –, o seu partido, a União Nacional, ultrapassou largamente
as expectativas: tendo como objetivo inicial conseguir, no mínimo, um
grupo parlamentar – o que requer 15 deputados –, o partido de
extrema-direita obteve 89.A
União Nacional torna-se assim o principal partido de oposição na
Assembleia Nacional, tendo em conta que a coligação de esquerda Nova
União Popular Ecológica e Social (NUPES), apesar de ter obtido 131
deputados, ficará divida em vários grupos parlamentares: 72 deputados
serão da França Insubmissa, 24 do Partido Socialista, 23 da Europa
Ecologia Os Verdes e 12 do Partido Comunista.Os
89 deputados eleitos no domingo constituem uma progressão muito
significativa e um resultado histórico para a União Nacional que, nas
últimas eleições legislativas, em 2017, tinha conseguido eleger apenas
oito deputados, contra dois em 2012 e zero em 2007.Na
história do partido de extrema-direita, o melhor resultado até agora
tinha sido registado em 1986, quando tinham sido eleitos 35 deputados,
numa altura em que o partido ainda era liderado pelo pai de Marine Le
Pen, Jean-Marie Le Pen.No
entanto, na altura, as legislativas tinham adotado um sistema eleitoral
proporcional – situação única na história da Quinta República –,
naquilo que alguns analistas consideram ter sido uma tentativa do então
Presidente socialista, François Mitterrand, de ‘limitar’ a progressão
dos seus rivais do partido de centro-direita RPR, liderados por Jacques
Chirac.O
resultado da União Nacional nestas legislativas é tanto mais
surpreendente que, ao contrário do escrutínio de 1986, foi realizado num
sistema maioritário uninominal de duas voltas, que favorece
tradicionalmente os candidatos ‘centristas’. Até agora, neste modelo de
escrutínio, a União Nacional nunca tinha ido além dos oito deputados
eleitos em 2017.Segundo
muitos analistas, o sucesso da União Nacional marca o fim da
tradicional ‘frente republicana’ a nível local em França, que ditava
que, quando um candidato do designado ‘eixo democrático’ enfrentava um
adversário de extrema-direita, todos os restantes partidos deviam apoiar
o candidato em questão.Nestas
eleições, a União Nacional conseguiu qualificar-se para a segunda volta
em 208 círculos eleitorais: 106 candidatos enfrentaram um adversário da
coligação presidencial, outros 61 um candidato da coligação de esquerda
NUPES e outros 25 um representante do partido de centro-direita,
Republicanos (Les Republicains). Em quase metade desses ‘duelos’, o
candidato da União Nacional conseguiu vencer.Os
resultados mostram também uma forte implantação local do partido de
extrema-direita: além dos bastiões tradicionais no norte e sul do país –
em departamentos como Pas-de-Calais ou na bacia mediterrânica –, a
União Nacional conseguiu também eleger deputados em territórios que, até
hoje, nunca tinham tido qualquer representante de extrema-direita, como
no departamento de Gironde, no ocidente do país.Através
do seu ‘bastião’ de Hénin-Beaumont – onde foi reeleita no domingo com
61,03% dos votos –, Marine Le Pen defendeu, hoje de manhã, que o
resultado das legislativas foi “uma vitória para a União Nacional”. “Ultrapassando
um modo de escrutínio particularmente injusto e inadaptado à nossa
época, o povo decidiu enviar um grupo parlamentar muito potente da União
Nacional para a Assembleia. (…) Será, de muito longe, o maior grupo da
história da União Nacional”, tinha ainda afirmado Le Pen na noite
eleitoral de domingo, pouco depois de as primeiras projeções terem sido
divulgadas.O
recém-reeleito Presidente francês, Emmanuel Macron, perdeu a maioria
absoluta na Assembleia Nacional na segunda volta das eleições
legislativas que decorreram no domingo.A
coligação Ensemble!, que apoia o chefe de Estado francês, conseguiu
eleger 245 deputados, abaixo dos 289 necessários para alcançar a maioria
absoluta.