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Exposição reflete 25 anos do percurso da Galeria Fonseca Macedo

“Celebração e Resiliência” é o título da exposição que reúne trabalhos de João Miguel Ramos, Maria Ana Vasco Costa e Pedro Cabrita Reis e que assinala o encerramento de um ciclo expositivo dedicado aos 25 anos da Galeria Fonseca Macedo.


Autor: Ana Carvalho Melo

A Galeria Fonseca Macedo encerra o ciclo expositivo dedicado aos seus 25 anos com a exposição “Celebração e Resiliência”, que reúne obras de João Miguel Ramos, Maria Ana Vasco Costa e Pedro Cabrita Reis. Uma mostra de arte que é um reflexo do percurso da galeria e do desafio constante de promover arte contemporânea a partir dos Açores.

“Estes dois conceitos que, aparentemente, se afastam um do outro, na realidade, são aspetos que valorizamos na nossa vida”, afirma ao Açoriano Oriental a galerista Fátima Mota, que explica: “Por um lado, temos prazer em festejar um aniversário, seja de um projeto ou de elementos da nossa família. Gostamos de juntar a família e os amigos para partilharmos a nossa amizade e conversarmos sobre o tempo que vai passando. Também acontece o mesmo com a Galeria.”

“Porém, o título também inclui o conceito da resiliência, da força e da energia necessárias para enfrentar as dificuldades que surgem todos os dias. É preciso não esquecer que uma galeria de arte é uma empresa que divulga e promove artistas e, ao mesmo tempo, comercializa obras de arte que constituem o suporte financeiro dos próprios artistas e da Galeria. No caso dos Açores, desenvolver o mercado da arte é ainda mais difícil, dada a pequena dimensão de cada ilha. Há ainda os problemas da logística, da carência de produtos específicos para o desenho, pintura e molduras”, acrescenta.

Nesta exposição, e à semelhança das restantes que compuseram este ciclo, Fátima Mota reúne artistas que colaboram com a galeria, oriundos de gerações diversas.

“Para mim, faz sentido que as gerações não permaneçam encerradas na sua bolha, sem grandes contactos. O importante é mesmo dar oportunidade para que esse contacto se concretize. Foi o que aconteceu na maioria das exposições”, refere.

Também o artista Pedro Cabrita Reis realça que a escolha do título “Celebração e Resiliência” para esta mostra “reflete a forma como a Fátima [Mota] e o António [Macedo] criaram algo de muito particular em Ponta Delgada, que é um lugar que não está no centro, a esvaziar-se, a tornar tudo igual”.

“As periferias, longe dos centros, têm tendência para a criatividade e a confluência de olhares diferentes, e a Galeria Fonseca Macedo levou a Ponta Delgada muitos olhares diferentes, tantos quantos os artistas que, ao longo deste quarto de século, passaram pela galeria”, afirma.

Sobre “Celebração e Resiliência”, João Miguel Ramos explica que apresenta quatro trabalhos, dos quais “‘PM#130’ e ‘PM#131’ foram realizados a partir da reutilização de redes serigráficas de trabalhos anteriores, cujos tecidos fotossensibilizados e posteriormente intervencionados propõem a pintura como fragmento e instrumento de trabalho, convocando a ideia de janela para o espaço expositivo da galeria. Já PM#127 (Pieter Aertsen) e PM#128 (Lorenzo) evocam, respetivamente, uma pintura renascentista e uma imagem científica do furacão Lorenzo, que passou pelos Açores em 2019, e onde a pintura surge como dispositivo relacional — seja como gesto de referenciação ou de mapeamento”, descreve.

O artista realça ainda que estar ligado à Galeria Fonseca Macedo tem-lhe permitido “integrar um projeto que, ao longo de 25 anos, tem possibilitado e acompanhado a produção artística nos Açores com uma atenção rara”.

“A Galeria, através do trabalho da Fátima e do António, construiu-se como um espaço de continuidade e de compromisso com os artistas, promovendo e documentando práticas múltiplas e intergeracionais”, defende.

Por sua vez, a artista Maria Ana Vasco Costa apresenta nesta exposição um conjunto de aguarelas sobre papel que integram um trabalho denominado Glaze Drawings.

“São resultado de uma investigação que tenho vindo a desenvolver em torno do vidrado cerâmico glaze. Enquanto nas peças de cerâmica o vidrado se fecha nos desenhos, aqui há uma expansão, onde, por vezes, se sugerem paisagens e profundidades tão características do material cerâmico”, revela.

Maria Ana Vasco Costa enfatiza que trabalhar com “a Fátima e o António, na Galeria Fonseca Macedo, não só me aproxima das minhas raízes [Vila Franca do Campo] - de onde resulta grande parte do meu trabalho - como me permite manter uma prática expositiva, tanto na ilha como em algumas feiras nacionais e internacionais”.
A exposição pode ser visitada até 13 de setembro.