Explorador britânico teme pelo mar português e defende ainda mais áreas protegidas
16 de set. de 2019, 08:41
— Lusa/AO Online
Em entrevista à agência Lusa, no domingo, na
sua passagem pela conferência "Futuro do Planeta", Paul Rose, que
mergulha desde os anos 1960, afirmou que no espaço de décadas se vê
"menos peixe e mais poluição", considerando "assustador" que não haja
mais zonas protegidas no espaço marítimo português, sobretudo nos
Açores, "o lugar mais bonito do mundo"."Partir-me-ia
o coração se Portugal e os Açores só decidissem protegê-las daqui a uns
anos, indo atrás de toda a gente", saudando a decisão, anunciada em
fevereiro deste ano, de aumentar as zonas protegidas nos Açores em 150
mil quilómetros quadrados.A decisão,
afirma, é sinal de "liderança global" e um exemplo para o mundo inteiro,
o mesmo que a sua geração e dos políticos no poder, devia dar perante
os jovens, defende."Os líderes que temos
são, muitas vezes, apenas influenciadas pelo dinheiro, e precisamos de
ter respostas sobre isso", afirma, indicando que "a ação climática
inteligente tem um potencial de negócio incrível" e é esse o argumento
que tem que se usar para quem diz que "os ambientalistas estão a fechar
fábricas, a impedir a pesca e a prejudicar o negócio da madeira".Paul
Rose considera que é preciso "acabar com os subsídios lesivos para a
pesca intensiva e para a extração de petróleo e gás", optando pelas
fontes de energia solar, eólica e das marés."Este
políticos não têm todos os mesmos valores que nós. Os seus valores são
manter-se no poder, manter os seus colegas e partidos nos lugares certos
para conseguirem dinheiro e influência e a natureza só vem no fundo da
lista" das suas prioridades.No entanto,
acredita que virá uma "mudança de valores" com as novas gerações que
"olham para os políticos e estão fartos, porque não veem nada a mudar"."Nós
não mudamos se não tivermos que mudar. Somos preguiçosos, os humanos",
disse, considerando que a geração que está no poder tem "a
responsabilidade de estabelecer um alto padrão" para as seguintes, para
que vão na direção certa na proteção do planeta.É
a mesma proteção que gostaria de ver alargada ao território marinho
português, que representa "97% do território total" e que tem "áreas
incrivelmente belas".Paul Rose recordou
que um dos membros de uma expedição aos Açores detetou ao largo da ilha
das Flores um cardume gigante de peixe-porco. Foi chamar os restantes
investigadores e quando voltaram ao mesmo local, algumas horas depois,
viram que só restavam entranhas no fundo do mar."Todos
mortos. Alguém apanhou o cardume com uma grande rede e em cerca de três
horas, só restavam tripas e barbatanas”. Não proteger estes recursos "é
uma loucura" e é assustador, afirma.A
última fronteira do oceano é, para Paul Rose, as grandes profundezas da
Fossa das Marianas, onde "daria tudo" para ir e levar o Presidente
norte-americano, Donald Trump."Acho que é o
homem com o maior défice de natureza que existe. Ele não entende. A
maior parte das pessoas explorou matas, parques naturais, acampou,
pescou, entende a Natureza, mesmo sem ser mergulhador profissional ou
conservacionista", disse.Pessoas como
Trump e [o Presidente brasileiro] Bolsonaro não entendem e isso parte-me
o coração. A minha viagem de sonho seria ir aos lugares mais belos do
mundo para eles os poderem experimentar. Infelizmente, acho que teria
que os trazer de volta", afirma, entre risos.