Expedição científica parte hoje para recolher novos dados de maior montanha submarina portuguesa

7 de set. de 2024, 08:56 — Lusa

A missão, que termina em 28 de setembro e conta com chancela da Fundação Oceano Azul e de parceiros governamentais e institucionais, tem como destino o Banco de Gorringe, um maciço montanhoso com profundidades que variam entre os 5.000 metros, na sua base, e os 25 metros, na zona menos profunda.Considerado um local de elevado interesse biológico e geológico, mas ainda pouco explorado, apesar das campanhas científicas realizadas no passado, o Banco de Gorringe é um "desencadeador muito importante" para acelerar em Portugal as medidas de proteção e gestão das áreas marinhas, segundo o coordenador-geral da expedição e administrador da Fundação Oceano Azul, Emanuel Gonçalves."Portugal é o principal detentor de biodiversidade marinha na Europa, mas não temos a correspondente proteção", lamentou à Lusa.A expedição, que envolve cerca de 50 cientistas de Portugal, Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, 30 dos quais a bordo de duas embarcações, visa sintetizar o conhecimento científico produzido sobre o Banco de Gorringe, agregando dados novos, divulgá-lo para "ganhar o apoio da sociedade para a proteção marinha" e "ativar os decisores para a adoção de medidas de proteção e gestão".Um relatório científico, com recomendações de ações, será publicado no primeiro trimestre de 2025 e um documentário sobre a expedição será exibido por essa altura.Antes disso, no fim da expedição, serão divulgados resultados preliminares do trabalho feito.O Banco de Gorringe concentra diversos 'habitats', uns mais perto da superfície e outros mais nas profundezas, como florestas de algas, jardins de corais, campos de esponjas ou cardumes de peixes, incluindo tubarões.Classificado desde 2015 como área marinha protegida da Rede Natura 2000, o sítio está na rota migratória de baleias, golfinhos e tartarugas. "Zonas remotas" como esta "são mais complexas de gerir", reconhece o co-coordenador científico da expedição, Henrique Cabral, biólogo que trabalha em França, no Instituto Nacional de Investigação em Agricultura, Alimentação e Ambiente, salientando que o local está sujeito a "pressões várias", como a pesca e a poluição.Para os cientistas reunirem informação sobre a biodiversidade do Banco de Gorringe, do qual estão documentadas mais de 800 espécies, serão feitas observações à superfície e a maior profundidade e serão recolhidas amostras de água, fauna e flora para análise e identificação.Durante o trabalho, que inclui filmagens e registos fotográficos, serão feitos mergulhos a profundidades variáveis entre 30 a 40 metros e serão utilizados 'drones', um sistema de câmaras de vídeo e um veículo subaquáticos controlados remotamente.A expedição tem ao "leme" o emblemático veleiro Santa Maria Manuela, que pertenceu à frota bacalhoeira portuguesa e hoje é usado em viagens turísticas. A embarcação parte junto com outra ao fim da manhã de hoje do Cais do Adamastor, no Parque das Nações, em Lisboa.Uma outra embarcação, com saída de Portimão, irá juntar-se à expedição, com cientistas a bordo, assim como o navio D. Carlos I, do Instituto Hidrográfico, da Marinha, com trabalho em curso de bioacústica e cartografia dos fundos marinhos.Recentemente, o navio fez o primeiro levantamento completo da extensão do Banco de Gorringe.Além da Fundação Oceano Azul, na coordenação-geral, promovem a expedição o Oceanário de Lisboa, o Ministério do Ambiente e Energia, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Marinha Portuguesa.A iniciativa conta, ainda, com diversos parceiros institucionais e académicos, tanto nacionais como estrangeiros.O Banco de Gorringe foi registado pela primeira vez em 1875 por Henry Gorringe, comandante do navio norte-americano Gettysburg, durante uma missão de mapeamento do fundo do oceano Atlântico.Os picos principais são os montes submarinos Gettysburg e Ormonde, que chegam quase à superfície, permitindo a deposição de grandes comunidades de algas.