Exoneração de embaixador português no Qatar deve-se a “rotação habitual”
17 de ago. de 2022, 17:36
— Lusa/AO Online
No cargo
apenas desde 2020 (depois de ter estado colocado na Guiné-Bissau),
António José Alves de Carvalho foi exonerado pelo Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, por proposta do Governo, informação
já publicada em Diário da República, disse à Lusa fonte oficial do
MNE.A exoneração do embaixador de Portugal
em Doha ocorreu cerca de uma semana depois de o chefe da missão
diplomática portuguesa, Manuel Gomes Samuel, ter dito numa peça emitida
pela estação televisiva SIC, a 08 de agosto, que denunciava violações
dos direitos humanos dos trabalhadores envolvidos na construção dos
estádios que acolherão no Qatar o próximo Campeonato Mundial de Futebol
FIFA de 2022 (entre 21 de novembro e 18 de dezembro), que estes
conseguiam trabalhar mais horas sob temperaturas frequentemente
superiores a 40ºC por terem a pele mais escura.“É
natural que uma pessoa que tem mais melanina na pele, portanto, mais
habituada a climas em que o sol tem uma incidência mais forte, tenha
mais capacidade, obviamente, de persistência a essas temperaturas do que
um habitante, por exemplo, do norte da Europa”, disse o chefe da missão
diplomática portuguesa em Doha.Nos 23
minutos de duração da peça da SIC, que denuncia violações dos direitos
humanos, trabalho forçado, sobrelotação dos alojamentos para
trabalhadores e casos de racismo, o chefe da missão diplomática
portuguesa em Doha pronuncia-se três vezes, afirmando, numa delas:
“Naturalmente, esses trabalhadores têm mais resiliência, não por uma
questão de pele, [mas] porque este país é um autêntico ‘melting pot’”.Tendo
vivido em “12 países”, Manuel Gomes Samuel assegura ainda não ter visto
no Qatar “questões de racismo que sejam mais evidentes do que noutros
países”.“Eu próprio sou testemunha de que
os cataris, os locais, têm um tratamento condigno para com os
estrangeiros, porque eles sabem que também dependem dos estrangeiros”,
observou.No dia seguinte à divulgação
desta reportagem, o gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, João
Gomes Cravinho, citado pelo semanário Expresso, reagiu às declarações
do chefe da missão portuguesa em Doha, distanciando-se das mesmas.“As
declarações proferidas, em apreço, não representam a posição oficial
deste Ministério”, acrescentando: “O Ministério dos Negócios
Estrangeiros condena, da forma mais veemente possível, qualquer forma de
discriminação racial, racismo e xenofobia, sendo o seu combate uma
prioridade de Portugal, tanto internamente como na ação externa que esta
área governativa acompanha”.“As políticas
e medidas nacionais na área da integração e das migrações são
reconhecidas como boas práticas a nível internacional”, concluiu.Questionado
pelo jornal sobre se o chefe da missão diplomática portuguesa em Doha
continuaria em funções, o MNE não emitiu qualquer resposta.À
Lusa, o seu gabinete indicou que “se aguarda a anuência das autoridades
do Qatar, em conformidade com a prática diplomática estabelecida, para
que se possa proceder à nomeação, nos termos habituais, do próximo
embaixador de Portugal em Doha”, reiterando que “esta rotação nada tem
que ver com alguns casos relatados pela imprensa recentemente”.