Ex-secretária de Estado Rita Marques recusa convite da The Fladgate Partnership
12 de jan. de 2023, 18:17
— Lusa/AO Online
“A
The Fladgate Partnership informa ter recebido, da Senhora
Engenheira Rita Marques, a indicação de que não pretende avançar com a
efetivação da relação profissional anteriormente anunciada”, informou a
empresa, em comunicado divulgado hoje. A
empresa justifica que a intenção de contratação de Rita Marques, que
estava previsto assumir o cargo em 16 de janeiro, "decorreu do seu
conhecimento e da experiência nas áreas da gestão e negócio, e
enquadrou-se nos objetivos e na estratégia de crescimento da empresa". A
empresa diz que “compreende a decisão" e "endereça" à antiga secretária
de Estado "o desejo dos maiores sucessos profissionais”. O
convite gerou polémica uma vez que a antiga secretária de Estado
passaria do Governo para funções de administração no grupo The Fladgate
Partnership, com responsabilidades na divisão de hotéis e turismo.A
The Fladgate Partnership é uma 'holding' que possui negócios no vinho
do Porto, sendo “a empresa fundadora do grupo a Taylor’s, que data de
1692”. Mais recentemente, entrou na área do turismo, destacando a
criação do The Yeatman Hotel, inaugurado em 2010, é também proprietária
do Vintage House Hotel, no Pinhão, bem como do WOW, (World of Wine).A
ex-secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços Rita Marques
disse hoje não ter condições para aceitar o convite da Fladgate
Partnership, defendendo, contudo, que não teve qualquer papel na
atribuição de incentivos à empresa de turismo. “Considerando
que a minha carreira profissional tem sido sempre pautada pela
competência, pelo rigor, por estritos princípios e valores éticos, e
pelo cumprimento incondicional da lei, entendo que não tenho condições
de aceitar, nesta altura, o convite que me foi dirigido, e que previa
que eu iniciasse funções a 16 de janeiro”, escreve Rita Marques, numa
mensagem na sua página da rede social Linkedin. A
antiga governante garante: "Não tive, no desempenho das minhas funções,
qualquer papel na atribuição de incentivos financeiros ou sistemas de
incentivos e benefícios fiscais de natureza contratual a esta sociedade;
e não tive qualquer intervenção direta em matéria da qual tenha
resultado um benefício concreto para aquela sociedade, já que, como é
público, limitei-me a confirmar a utilidade turística a um
empreendimento turístico que goza de estatuto de “Projeto de Interesse
Nacional - PIN” e cuja utilidade turística tinha sido conferida antes de
eu iniciar funções de secretária de Estado". Aquando
do convite, a ex-governante afirmou, à SIC Notícias, estar
“absolutamente segura das decisões tomadas enquanto secretária de
Estado” e também “das que toma na esfera privada desde que deixou o
Governo”. No entanto, a pressão política e
mediática aumentou sobre a transição, tendo o primeiro-ministro,
António Costa, dito esta quarta-feira, durante o debate sobre política
geral no parlamento, ter "99,9%" de certeza de que "é ilegal" Rita
Marques passar a exercer funções numa empresa do setor que tutelou e
"não corresponde à ética republicana", quando questionado sobre o tema. Durante
o debate sobre política geral na Assembleia da República, o
primeiro-ministro foi questionado pelo líder do Chega, André Ventura,
sobre a situação que envolve Rita Marques, que "decidiu sair do Governo e
ir para uma empresa à qual tinha concedido benefícios fiscais"."O
que eu fiz quando li a notícia foi pedir ao secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros para falar à doutora Rita Marques,
chamando a atenção para as limitações legais existentes, perguntando-lhe
se tinha atribuído algum benefício de natureza contratual, seja de
natureza fiscal, seja de incentivo financeiro, se tinha praticado algum
ato relativamente aquela empresa e ela entendeu que estava a coberto da
lei. Não é a interpretação que eu faço", salientou.O
chefe de Governo disse também não ter "a menor das dúvidas de que não
corresponde à ética republicana alguém sair do Governo e ir exercer
funções numa empresa relativamente à qual agiu diretamente".O
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou hoje que o
caso da ex-secretária de Estado do Turismo é "legalmente óbvio",
independentemente do que tenha decidido enquanto governante: "Para mim,
antes de haver lei, já era eticamente óbvio. Havendo lei, passou a ser
legalmente óbvio".Para Marcelo Rebelo de
Sousa, que falava no antigo picadeiro real, junto ao Palácio de Belém,
em Lisboa, "é evidente que não deve ir trabalhar para uma área que no
fundo foi uma área em que governou – independentemente depois das
decisões concretas, que essas são avaliadas caso a caso".Interrogado
se deve haver uma revisão da lei que estabelece as incompatibilidades e
impedimentos de titulares de cargos políticos – que na versão atual
sanciona casos como o de Rita Marques com "inibição para o exercício de
funções de cargos políticos e de altos cargos públicos por um período de
três anos" –, o Presidente da República remeteu a matéria para a
Assembleia da República.