Ex-presidente da Comissão Vitivinícola nos Açores lamenta "concorrência desleal"

17 de set. de 2019, 08:30 — Lusa/AO Online

“Há uma concorrência desleal com vinhos que aproveitam a imagem - que neste momento é positiva - do vinho açoriano, para através de marcas enganadoras passar a mensagem ao consumidor de que se está a beber um vinho que é mais barato e dos Açores”, declarou o enólogo à agência Lusa.O também empresário referiu que, ao preço a que se pagam as uvas, “é impossível que alguns vinhos existam no mercado com a imagem que faz parecer Açores e possam ser da região”.O fenómeno, acrescentou, tem vindo a ganhar dimensão nos últimos anos e já representa um volume “muito grande de vinho”. Para o antigo responsável pela Comissão Vitivinícola Regional dos Açores, a fiscalização no mercado tem de ser “muito apertada e contínua”, enquanto a informação também deve chegar aos consumidores e aos vendedores destes vinhos, passando-se a “mensagem correta aos clientes”.“Houve um momento de fiscalização apertada”, que “produziu efeitos", mas a partir daí "continuaram a haver algumas falhas, principalmente através das cartas de vinhos em restaurantes em que não estão devidamente separadas as categorias de vinho, induzindo em erro os consumidores", sublinhou.A região possui 37 vinhos certificados, 14 produtores, três castas nobres e três regiões demarcadas: Biscoitos, na ilha Terceira, Graciosa e Pico.Na sequência de uma decisão do Governo Regional, a Comissão Vitivinícola Regional dos Açores passou desde fevereiro a emitir pareceres técnicos para o executivo sobre o controlo da genuinidade e qualidade dos vinhos não certificados produzidos e/ou engarrafados na região.A Direção Regional do Desenvolvimento Agrário e aquela comissão assinaram, então, um protocolo que visa “estabelecer mecanismos de cooperação entre estas duas entidades no sentido de assegurar que seja devidamente controlada a genuinidade e a qualidade dos vinhos não certificados e a defesa interna e externa dos mesmos”.Além da necessidade de a região estar “muito bem protegida” para esta nova realidade, o enólogo defendeu a necessidade de existirem mais produtores e vitivinicultores que “possam transformar as uvas num produto valioso” e com a “capacidade internacional de procurar novos mercados e clientes”.Sobre as vindimas deste ano, Paulo Machado declarou que começaram mal face à intensidade da chuva em agosto nos Açores, num ano que se apresentava como “um dos maiores em termos produtivos” face ao volume de uva existente e ao surgimento de novas vinhas.Contudo, “perspetiva-se ainda que haja um aumento da produção” em termos comparativos com o ano anterior.“As uvas apresentavam inicialmente um grau elevado de podridão, o teor de açúcar não era muito elevado, mas nas últimas duas semanas, em que deixou de chover, a qualidade subiu bastante”, explicou.