Ex-presidente da Câmara de Comércio da Horta rejeita liderança das Agendas Mobilizadoras
PRR
5 de abr. de 2022, 15:33
— Lusa/AO Online
“Assumiu a
liderança das agendas. Foi assumida. Só eles é que podem explicar a
seleção das empresas e os valores aqui colocados”, afirmou o
ex-presidente da associação empresarial, referindo-se à Câmara de
Comércio e Indústria de Ponta Delgada.Davide
Marcos, que liderava a CCIH aquando do processo, falava, em Ponta
Delgada, numa audição de cerca de três horas na comissão parlamentar de
inquérito à operacionalização agendas mobilizadoras do PRR nos Açores do
Parlamento açoriano.O ex-presidente disse
que sempre sentiu com o novo executivo açoriano (PSD/CDS-PP/PPM) “uma
proximidade exagerada com a Câmara de Comércio de Ponta Delgada”.“O que aconteceu com as agendas mobilizadoras a mim não me surpreendeu”, afirmou.Davide
Marcos disse que, em agosto de 2021, já depois de ter tido uma reunião
sobre o processo, falou com cinco membros do Governo Regional e todos
disseram não ter conhecimento do que se estava a passar.Questionado
pelo PS sobre a que membros se referia, o empresário revelou apenas que
não se tratava do secretário regional das Finanças, nem do secretário
regional do Mar.Davide Marcos falou de “muita proximidade e alguma promiscuidade” entre o executivo e a Câmara de Comércio de Ponta Delgada.O
ex-presidente adiantou que teve uma primeira reunião, a 15 de julho,
com o secretário regional das Finanças e com os líderes das outras duas
câmaras de comércio, tendo ficado com a sensação de que o líder da CCIPD
tinha “mais informações”.Segundo Davide
Marcos, nessa reunião foi explicado que as agendas mobilizadoras seriam
elaboradas por consultoras, mas não foram definidos critérios para a
seleção das empresas.“Foi tudo mal
explicado desde o início”, frisou, acrescentando que lhe foi apresentado
um “documento provisório”, com 25 páginas, “não vinculativo”, que era
apenas uma “manifestação de interesse”.O empresário admitiu que não divulgou o processo junto de todos os associados da CCIH, “por falta de tempo”.Disse
ainda que alguns dos nomes da lista de empresas que se reuniram com as
consultoras contratadas pelo executivo açoriano foram indicados por uma
funcionária da Câmara de Comércio de Ponta Delgada e os restantes
escolhidos por si.“Selecionei os empresários que conhecia e os que mostravam disponibilidade”, avançou.Nessas
reuniões com as consultoras, foi feito um “levantamento de informações”
sobre as empresas, mas “nunca se falou em candidaturas”, revelou.“Nunca
nos foi transmitido que era para fazer candidaturas ou eventualmente
que iam ser incluídos nas mesmas. Nunca se falou de milhões. Foi um
processo mal explicado e mal organizado”, apontou.Davide
Marcos rejeitou qualquer responsabilidade na seleção das empresas que
integraram, posteriormente, as agendas mobilizadoras.“Não tenho nenhuma intervenção nos nomes”, sublinhou.Questionado
sobre se a associação empresarial de Ponta Delgada teria
responsabilidade nessa seleção, Davide Marcos disse que achava que sim.“Quem
é que escolheu? Se não foi o Governo, se não foi o professor Mário
Fortuna [presidente da CCIPD], se não foi a Câmara de Comércio de Ponta
Delgada, estão a brincar comigo. Assumam as suas responsabilidades.
Alguém escolheu aqueles nomes ou não? A Profeiras [empresa da CCIPD]?
Acha que foi o senhor secretário que se lembrou da Profeiras?”,
reforçou.Davide Marcos classificou o processo como uma “trapalhada” e criticou a falta de “organização e planeamento”.A
comissão de inquérito às agendas mobilizadoras foi aprovada por
unanimidade no parlamento açoriano em outubro de 2021, depois de vários
partidos terem questionado a gestão feita pelo Governo Regional
(PSD/CDS-PP/PPM) às verbas previstas no PRR para o arquipélago ao abrigo
daquele programa.Em causa estava uma
verba inicial de 117 milhões de euros, financiada pelo PRR, destinada a
projetos de inovação, turismo e agro-indústria, a que poderiam
candidatar-se as empresas açorianas que apresentassem projetos em
consórcio com outros grupos económicos.Na
sequência de críticas ao processo, os consórcios criados nos Açores
deixaram cair as propostas, em outubro, a pedido do presidente do
Governo Regional, que disse ter a “garantia” do Governo da República de
que a verba destinada à região não estava em causa.