Autor: Lusa/AO Online
“Assumiu a liderança das agendas. Foi assumida. Só eles é que podem explicar a seleção das empresas e os valores aqui colocados”, afirmou o ex-presidente da associação empresarial, referindo-se à Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada.
Davide Marcos, que liderava a CCIH aquando do processo, falava, em Ponta Delgada, numa audição de cerca de três horas na comissão parlamentar de inquérito à operacionalização agendas mobilizadoras do PRR nos Açores do Parlamento açoriano.
O ex-presidente disse que sempre sentiu com o novo executivo açoriano (PSD/CDS-PP/PPM) “uma proximidade exagerada com a Câmara de Comércio de Ponta Delgada”.
“O que aconteceu com as agendas mobilizadoras a mim não me surpreendeu”, afirmou.
Davide Marcos disse que, em agosto de 2021, já depois de ter tido uma reunião sobre o processo, falou com cinco membros do Governo Regional e todos disseram não ter conhecimento do que se estava a passar.
Questionado pelo PS sobre a que membros se referia, o empresário revelou apenas que não se tratava do secretário regional das Finanças, nem do secretário regional do Mar.
Davide Marcos falou de “muita proximidade e alguma promiscuidade” entre o executivo e a Câmara de Comércio de Ponta Delgada.
O ex-presidente adiantou que teve uma primeira reunião, a 15 de julho, com o secretário regional das Finanças e com os líderes das outras duas câmaras de comércio, tendo ficado com a sensação de que o líder da CCIPD tinha “mais informações”.
Segundo Davide Marcos, nessa reunião foi explicado que as agendas mobilizadoras seriam elaboradas por consultoras, mas não foram definidos critérios para a seleção das empresas.
“Foi tudo mal explicado desde o início”, frisou, acrescentando que lhe foi apresentado um “documento provisório”, com 25 páginas, “não vinculativo”, que era apenas uma “manifestação de interesse”.
O empresário admitiu que não divulgou o processo junto de todos os associados da CCIH, “por falta de tempo”.
Disse ainda que alguns dos nomes da lista de empresas que se reuniram com as consultoras contratadas pelo executivo açoriano foram indicados por uma funcionária da Câmara de Comércio de Ponta Delgada e os restantes escolhidos por si.
“Selecionei os empresários que conhecia e os que mostravam disponibilidade”, avançou.
Nessas reuniões com as consultoras, foi feito um “levantamento de informações” sobre as empresas, mas “nunca se falou em candidaturas”, revelou.
“Nunca nos foi transmitido que era para fazer candidaturas ou eventualmente que iam ser incluídos nas mesmas. Nunca se falou de milhões. Foi um processo mal explicado e mal organizado”, apontou.
Davide Marcos rejeitou qualquer responsabilidade na seleção das empresas que integraram, posteriormente, as agendas mobilizadoras.
“Não tenho nenhuma intervenção nos nomes”, sublinhou.
Questionado sobre se a associação empresarial de Ponta Delgada teria responsabilidade nessa seleção, Davide Marcos disse que achava que sim.
“Quem é que escolheu? Se não foi o Governo, se não foi o professor Mário Fortuna [presidente da CCIPD], se não foi a Câmara de Comércio de Ponta Delgada, estão a brincar comigo. Assumam as suas responsabilidades. Alguém escolheu aqueles nomes ou não? A Profeiras [empresa da CCIPD]? Acha que foi o senhor secretário que se lembrou da Profeiras?”, reforçou.
Davide Marcos classificou o processo como uma “trapalhada” e criticou a falta de “organização e planeamento”.
A comissão de inquérito às agendas mobilizadoras foi aprovada por unanimidade no parlamento açoriano em outubro de 2021, depois de vários partidos terem questionado a gestão feita pelo Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) às verbas previstas no PRR para o arquipélago ao abrigo daquele programa.
Em causa estava uma verba inicial de 117 milhões de euros, financiada pelo PRR, destinada a projetos de inovação, turismo e agro-indústria, a que poderiam candidatar-se as empresas açorianas que apresentassem projetos em consórcio com outros grupos económicos.
Na
sequência de críticas ao processo, os consórcios criados nos Açores
deixaram cair as propostas, em outubro, a pedido do presidente do
Governo Regional, que disse ter a “garantia” do Governo da República de
que a verba destinada à região não estava em causa.