Ex-ministros, cientistas e artistas pedem moratória sobre mineração em mar profundo
3 de mar. de 2023, 13:12
— Lusa/AO Online
A
carta, divulgada e endereçada ao governo português, foi lançada
pelas organizações ambientalistas ANP/WWF e Sciaena, na semana em que o
Governo da Região Autónoma dos Açores “emitiu uma declaração pública
concordando com a moratória nos mares do arquipélago”, destacaram os
organizadores da iniciativa. Os
subscritores pretendem que a mineração em mar profundo seja considerada
“inviável”, não apenas nas áreas mais vulneráveis, de elevada
biodiversidade ou áreas protegidas, mas em todo o oceano. Cientistas,
ex-ministros, artistas e especialistas em assuntos do mar e ambiente
pedem uma moratória até que os riscos ambientais, sociais e económicos
sejam compreendidos de forma abrangente e esteja claramente demonstrado
que esta atividade pode ser gerida de forma a “assegurar a efetiva
proteção do ambiente marinho”, evitando a perda de biodiversidade e
salvaguardando as comunidades costeiras e a saúde humana. “Os
subscritores consideram que o Governo português deve juntar-se a um
número crescente de países (Alemanha, França, Espanha, Canadá, Nova
Zelândia, Chile, Costa Rica, Equador, Panamá, Palau, Fiji, Micronésia,
Samoa) e aplicar o princípio da precaução, declarando já uma moratória à
mineração do leito do mar profundo sob jurisdição nacional e defender o
mesmo para as águas internacionais nas reuniões da Autoridade
Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) em março e julho de 2023”, lê-se
num comunicado conjunto emitido pelas organizações.Na
carta, defendem que permitir a exploração de minérios em mar profundo é
“um retrocesso” e não um passo rumo a um futuro sustentável.“A
prioridade do Governo deve ser, sim, a de promover e financiar
investigação científica sobre o mar profundo, para que, em conjunto,
possamos assegurar a sua proteção e a preservação dos seus
ecossistemas”, afirmam os subscritores da carta.Num
debate promovido pela ANP|WWF e pela Sciaena nos Açores, o Governo da
Região Autónoma “declarou publicamente que concorda com a moratória à
mineração em mar profundo nos mares deste arquipélago”, sublinham as
organizações. A mineração em mar profundo
visa extrair minerais como cobre, cobalto, níquel ou manganês do fundo
do mar, com “maquinaria pesada a operar em condições muito adversas e
arriscadas (elevada profundidade e sujeitas a grande pressão),
destruindo localmente ecossistemas e perturbando outros a largas
centenas de quilómetros em redor”, justificam.“Apesar
do pouco conhecimento científico sobre estes habitats e os potenciais
impactos desta atividade, sabe-se que se a indústria avançar, a
intensidade e os métodos de mineração poderão destruir habitats
completos, extinguir espécies e comprometer os serviços que eles nos
proporcionam, prejudicando também as populações locais, principalmente
as comunidades costeiras”, pode ler-se no documento que acompanha a
divulgação da missiva.A ANP|WWF e a
Sciaena temem que, a iniciar-se esta atividade em Portugal, um dos
locais preferenciais alvo de exploração seja a Região Autónoma dos
Açores, “internacionalmente reconhecida como um oásis para a vida
marinha”.O local, sublinham, é “casa ou
ponto de passagem” de grandes migradores oceânicos, muitos deles
classificados na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União
Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), como 'Em Perigo' ou
'Ameaçados', e cuja proteção “ficará em risco”.A
Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos está a elaborar normas
globais aplicáveis à mineração em mar profundo em águas internacionais,
que serão provavelmente concluídas em meados de 2023. Uma
área de 1,2 milhões de quilómetros quadrados de mar profundo em águas
internacionais já foi licenciada para mineração, segundo a mesma fonte.