Ex-ministras da Justiça consideram torres de vigia nas prisões modelo obsoleto
27 de set. de 2024, 11:52
— Lusa/AO Online
Na primeira das duas
audições às ex-ministras dos anteriores Governos socialistas de António
Costa, Francisca Van Dunem disse, já a concluir a sua audição por
requerimento da Iniciativa Liberal na sequência da fuga de cinco
reclusos do estabelecimento prisional (EP) de Vale de Judeus, que a
informação que tem “aponta para a obsolescência” das torres de vigia
enquanto instrumento de segurança prisional, acrescentando que ter um
guarda fixo numa guarita durante horas a vigiar um perímetro “não é um
modelo de futuro”.“Quando cessei funções
no Ministério da Justiça (MJ), em março de 2022, não eram do meu
conhecimento, nem me foram relatados, nem existiam quaisquer
constrangimentos associados à segurança do EP de Vale de Judeus”, disse
Van Dunem, na sua intervenção inicial, ao longo da qual insistiu no
apuramento de factos sobre questões de segurança daquele EP.Sublinhou
que “não houve uma decisão política de derrubar torres”, uma vez que
quando iniciou funções já não existiam torres de vigia, mas sim “ruínas,
ferros, argamassa” com “risco de utilização” e perigo para quem
utilizasse.Apontou, por exemplo, a
necessidade de os deputados questionarem se os sensores de movimento
associados às câmaras de vigilância estavam ou não em funcionamento e de
esclarecerem o porquê de não estarem, sendo esse o caso.Já
Catarina Sarmento e Castro, sobre a questão das torres de vigia,
sublinhou uma mudança de paradigma para uma aposta em sistemas de
videovigilância: “Não tenho notícia que fizessem falta e nunca me foi
solicitado que fossem construídas novas”.Hoje,
na mesma comissão parlamentar, numa audição ao início da tarde, o
ex-subdiretor da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais
(DGRSP), Pedro Veigas Santos, afirmou que a demolição das torres de
vigilância da prisão de Vale de Judeus, em 2017, se terá ficado a dever à
falta de orçamento: “Aquilo que se previa de custo era na ordem dos 250
a 280 mil euros por cada torre, o que significa que o orçamento para as
quatro torres seria sempre superior a um milhão de euros”. Sobre
o relatório que avaliou o sistema prisional e apontava necessidades de
intervenção, realizado na sua tutela, Francisca Van Dunem enumerou
melhorias que dele resultaram, ao nível da carreira e condições de
trabalho dos guardas prisionais, com mais contratações e melhores
horários, mas também mais técnicos de reinserção, admitindo, no entanto,
que o que foi feito não era ainda “o equilíbrio desejável” para o
sistema.Sublinhou também investimentos em termos de segurança, nomeadamente a generalização dos sistemas de videovigilância.“Não creio que quando deixei o MJ subsistissem problemas graves de segurança”, disse.Francisca
Van Dunem e Catarina Sarmento e Castro, ouvidas em duas audições
separadas, concordaram ainda que serviços prisionais e reinserção social
devem ser separados, tendo Van Dunem manifestado compreensão pela
decisão de fusão na altura em que aconteceu, quando o país estava sob
intervenção externa, mas entende que essa decisão “deve ser repensada”,
porque estes são “modelos incompatíveis”, acrescentando: “Estas duas
casas nunca se encontraram”.Catarina
Sarmento e Castro, que usou boa parte da sua audição para elencar
medidas tomadas no seu mandato para melhorias do sistema prisional,
enfatizando o seu “empenho pessoal” nesta matéria, com 30 visitas a
prisões, destacou o plano plurianual para a justiça, que previa obras e
requalificação de prisões, mais investimento em viaturas e equipamentos
de segurança e o encerramento do mais problemático Estabelecimento
Prisional do país em termos de direitos humanos, a prisão de Lisboa.Aos
deputados apontou responsabilidades futuras, sublinhando o momento de
discussão do próximo Orçamento do Estado, lembrando que o último previa a
maior verba de sempre alocada ao setor da Justiça, que “não é
suficiente”, pelo que “é preciso continuar esta onda de investimento”.Depois
de hoje o ex-diretor da DGRSP Rui Abrunhosa Gonçalves ter dito que não
falou com a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, na sequência da
fuga de Vale de Judeus, por não ter o seu número de telefone, Isabel
Moreira (PS) questionou Catarina Sarmento e Castro se o diretor-geral
tinha o seu contacto.“Sim, falei várias vezes com o senhor diretor-geral e tem naturalmente o meu número de telefone”, respondeu a ex-ministra.Cinco
reclusos fugiram no dia 07 de setembro do Estabelecimento Prisional de
Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de
Lisboa. Os evadidos são dois cidadãos
portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos
Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina,
Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com
idades entre os 33 e os 61 anos.Foram
condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários
crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo,
sequestro e branqueamento de capitais.