Eventos climáticos extremos acontecem mais rápido do que previsto
14 de dez. de 2023, 18:40
— Lusa
Em
declarações à agência Lusa, a propósito do aumento das temperaturas e
de fenómenos climáticos extremos, e de este ser o ano mais quente alguma
vez registado, Jim Skea disse que as consequências das alterações
climáticas observadas este ano, embora já projetadas pelo IPCC, estão a
acontecer muito mais rapidamente do que o previsto, em particular
eventos climáticos extremos, como inundações ou incêndios florestas.Mas,
avisou o responsável, piores efeitos podem ocorrer se forem
ultrapassados os 1,5ºC de aumento da temperatura em relação à época
pré-industrial. O IPPC está muito
preocupado com alterações na produtividade dos sistemas agrícolas, ou
com o degelo do “permafrost”, as zonas que até agora estão
permanentemente cobertas de gelo.“Por
isso, quero dizer que continua a ser uma mensagem forte que a 1,5°C
veremos os efeitos das alterações climáticas. Mas estes são muito, muito
menores do que se formos além de 1,5 C e chegarmos aos 02ºC ou mesmo
mais”, afirmou.Jim Skea falava à Lusa em
Lisboa, onde participou hoje na cerimónia da entrega do Prémio Norte-Sul
do Conselho da Europa, que premiou o IPCC e a Associação das Cidades
Ucranianas.O IPCC é uma instituição
científica na esfera da ONU que sintetiza e divulga a principal
informação sobre alterações climáticas. Tem produzido relatórios e o seu
trabalho é, refere o Conselho da Europa na justificação do prémio,
crucial na sensibilização para a necessidade premente de agir a nível
mundial contra as emissões de gases com efeito de estufa (GEE).Jim
Skea também já tinha alertado para a necessidade de conter o aumento
das temperaturas globais numa reunião organizada pela comissão
parlamentar de Ambiente da Assembleia da República, onde admitiu que é
possível manter esses valores abaixo de 1,5ºC, dependendo das ações
tomadas já, porque cada segundo conta.Os
fenómenos climáticos extremos podem afetar milhões de pessoas, disse,
alertando que as opções de adaptação às alterações climáticas vão
ficando menos eficazes à medida que o tempo passa, e que algumas
mudanças provocadas pela crise climática podem tornar-se irreversíveis.Para
já, recordou, as ações tomadas não estão no caminho dos 1,5ºC mas antes
dos 03ºC, com as medidas de adaptação a não serem suficientes, com a
capacidade de adaptação a diminuir também.É
verdade, reconheceu, que há boas notícias, como a vintena de países que
baixou emissões de GEE, as tendências positivas com medidas
legislativas, a diminuição do custo da energia na última década, de 85%
na solar a 55% na eólica.A verdade,
avisou, é que tomar medidas mais ambiciosas agora vai prevenir medidas
no futuro mais dramáticas, disruptivas e caras.As escolhas dos próximos 10 anos terão consequências nos próximos milhares de anos, disse.Questionado
pela Lusa Jim Skea afirmou que com temperaturas além dos 1,5ºC há um
risco real de extinção de espécies, de perda de biodiversidade, mas
também de riscos para os humanos.“Não
creio que estejamos a falar da extinção da espécie humana”, afirmou,
acrescentando que algumas partes do mundo ficarão difíceis de habitar.“Há
tipos de assentamentos humanos, em particular em pequenas ilhas e áreas
costeiras baixas, que podemos perder. E obviamente uma das respostas
adaptativas responsáveis é migrar ou sair dessas regiões”, disse.E quando será isso? Em poucos anos? No final do século? Jim Skea sorriu. E depois respondeu: “digamos… dentro de décadas”.