Europeias vão ser luta entre a Europa de Macron e a de Salvini
17 de jan. de 2019, 11:09
— Lusa/AO Online
“A
manifestação de apoio de Itália aos ‘coletes amarelos’ insere-se
claramente no contexto das eleições […], que vão ser uma luta entre a
Europa de Macron ‘versus’ a Europa de Salvini”, disse a investigadora do
Instituto de Ciências Sociais num debate na sede da agência Lusa em
Lisboa.“Macron
quis ser o ‘senhor Europa’, representar uma Europa otimista, mas a
verdade é que não conseguiu nada, porque a Alemanha não cedeu em nada de
fundamental”, explicou.Do
outro lado, o governo populista italiano, expressão de um nacionalismo
surgido contra “os efeitos negativos, económicos mas também
identitários, da globalização”.Visão
semelhante foi expressa pelo embaixador António Martins da Cruz, que
atribuiu os ‘ataques’ de Roma a França e à União Europeia a uma “luta de
poder na Europa com as eleições em pano de fundo”.“O
eixo Paris-Berlim, antes dominante, está, não a desfazer-se, mas a
deslindar-se”, com a chanceler alemã, Angela Merkel, “a sair pela
esquerda baixa” e Macron “a escrever cartas aos franceses em vez de
governar”, ele que “entrou com grandes ideais sobre Europa e hoje está a
reboque dos acontecimentos no seu país, o que lhe retira autoridade na
Europa”, explicou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.“E
os italianos Matteo Salvini e Luigi di Maio, dois novatos na política,
viram que era altura de avançar […] e arranjam aliados na Polónia, na
Hungria, entre outros”, acrescentou Martins da Cruz, citando uma frase
das Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, “A arte da política é
ocupar os espaços”.Neste caso, ocupar o espaço deixado vago pela Alemanha e a França na UE.Marina
Costa Lobo explicou que o populismo italiano “é simbólico” de “uma
vaga” mais vasta, de “características genéricas comuns” – a defesa de um
“povo bom e genuíno” contra “uma elite corrupta e entrincheirada nas
instituições” - e “situações concretas” – económicas, decorrentes por
exemplo do desemprego em setores onde houve perda de competitividade, ou
identitárias, geradas pela insatisfação de ser “uma porta de entrada”
da imigração na Europa.Frisando
que não tem “nenhuma simpatia” pelos “tiques autoritários” de Salvini, a
investigadora considerou, contudo, que a evolução política em Itália
“devia ser um sinal muito importante para a Europa” no sentido de “mudar
a política do euro” e as diferenças que criou.“É
pena que sejam Salvini e Di Maio a dizê-lo, são obviamente os atores
errados para o fazer, mas são o sinal do falhanço da politica europeia”,
disse.Martins
da Cruz explicou que a fragmentação política a que se assiste na Europa
“traz ao de cima as ideologias” e estas “cruzam-se, na Comissão e no
Conselho, com a luta de poder entre os países”, agora que se “assiste a
uma reconstrução de poder na Europa” com o ‘Brexit’ e o enfraquecimento
da Alemanha e de França, que vão permitir uma consolidação de poder de
países como Itália ou Espanha.O
problema, sublinhou o embaixador, “é a falta de experiência europeia e
de ‘gravitas’ [peso] destes dois partidos de governo em Itália”, dado a
“derivas populistas que são perigosas para o futuro da Europa”.Martins
da Cruz sublinhou que Espanha tem vários problemas internos para
resolver, especialmente os independentismos, mas, se o conseguir, “vai
querer ocupar espaço na Europa”, o que “cria um problema grave” a
Portugal, porque se não acompanhar Espanha, “acentua a sua periferia e
Espanha fala por nós na Europa”.Esse
“ocupar espaço” traduz-se em “lugares que deem visibilidade”,
prosseguiu o embaixador, “não para obter soluções que lhe sejam
favoráveis”, mas “para influenciar as decisões” que venham a ser
tomadas.Frisou
neste ponto a importância da eleição de Mário Centeno para a
presidência do Eurogrupo e a importância do próximo comissário
português.“Portugal
tem especiais responsabilidades, porque somos o único pequeno país que
tem uma política externa universal e uma responsabilidade histórica”,
sublinhou, evocando a presença e influencia em África ou na América
Latina.