Eurodeputados portugueses defendem “ações concretas” contra desflorestação
17 de set. de 2019, 18:54
— Lusa/AO online
Os
incêndios florestais da Amazónia estiveram em debate na sessão plenária
do Parlamento Europeu, que decorre até quinta-feira na cidade francesa
de Estrasburgo.A eurodeputada Marisa
Matias, do Bloco de Esquerda (BE), à margem da sessão, disse à Lusa que a
questão da Amazónia “ultrapassa muito o Brasil”, já que “se está a
falar de uma das maiores fábricas de produção de oxigénio do mundo”.“A
UE pode dizer o que entender, mas se não tiver ações concretas,
nomeadamente no que toca ao acordo que se está a negociar com os países
da Mercosul [organização do Mercado Comum do Sul] no sentido de não
importar carne, não importar soja ou madeira da Amazónia, continuará a
alimentar o agronegócio”, frisou.A eleita
do BE vincou: “De lágrimas de crocodilo estamos um bocadinho cansados e,
por isso, era preciso que houvesse uma ação mais concreta e que
houvesse coragem para impedir o que tem sido o massacre da floresta e
das comunidades que ali vivem”.O
eurodeputado Francisco Guerreiro, do PAN (Pessoas-Animais-Natureza),
defendeu que a UE deve adotar uma “posição firme” e congelar o acordo
assinado no final de junho com a Mercosul, levando o Brasil a adotar
medidas contra a desflorestação. “A UE tem
um grande mercado no Brasil e, para nós, é evidente que a UE deve
congelar esse acordo para que se crie um roteiro e um plano claro para
parar o desmatamento e para regenerar a Amazónia”, acrescentou à Lusa,
sugerindo o fim da importação de carne e soja do Brasil.Isabel
Santos, do PS, também notou que “o Brasil é um parceiro muito
importante não só de Portugal como da UE”, pelo que, a seu ver, a União
“não pode ficar indiferente num momento em que as questões do combate às
alterações climáticas e a luta pela proteção do ambiente estão em cima
da mesa”.Para José Manuel Fernandes, do
PSD, a solução passa pela cooperação “no sentido de combater as
alterações climáticas e de proteger a floresta”.“A
UE tem obrigação de, também ela, cooperar em fundos e programas que
ajudem a floresta em termos mundiais”, assinalou à Lusa, advogando a
criação de “uma estratégia europeia para a floresta”.Já
segundo o eurodeputado João Ferreira (PCP), “os incêndios que
devastaram a Amazónia nas últimas semanas justificam algum tipo de
cooperação internacional, desde que respeitando a soberania do Brasil”.“Para
lá disso, o que fica à vista são as consequências que pode ter a
desflorestação do ponto de vista de serem áreas que virão a ser ocupadas
por agropecuária”, adiantou.O
eurodeputado Nuno Melo, do CDS-PP, realçou que “a desflorestação da
Amazónia acontece desde os anos 1970”, considerando que o tema só ganhou
visibilidade por Jair Bolsonaro ser Presidente do Brasil.O
centrista propôs que a UE “colabore com as autoridades dos diferentes
países [abrangidos pela Amazónia] para mudar mentalidades e, assim,
reduzir este fenómeno”, evitando “uma simples lógica punitiva que leve
estes países a ter uma reação oposta”.O
Governo brasileiro, liderado por Jair Bolsonaro, foi fortemente
questionado nas últimas semanas pela comunidade internacional por causa
do ressurgimento de grandes ações de desflorestação e incêndios na
Amazónia no território do Brasil.Segundo
dados oficiais provisórios, a destruição da floresta amazónica no Brasil
praticamente duplicou entre janeiro e agosto de 2019, face ao mesmo
período de 2018.O Brasil registou 4.935
focos de queimadas na Amazónia brasileira nos oito primeiros dias de
setembro, informou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
que revela que desde o início do ano os incêndios aumentaram 47%.A
Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior
biodiversidade registada numa área do planeta, com cerca de 5,5 milhões
de quilómetros quadrados, incluindo territórios do Brasil, Peru,
Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana
Francesa (pertencente à França).O Inpe anunciou que a desflorestação da Amazónia aumentou 222% em agosto, em relação ao mesmo mês de 2018.