EUA vetam resolução do Conselho de Segurança que exigia cessar-fogo em Gaza
Israel
9 de dez. de 2023, 15:30
— Lusa /AO Online
A resolução, da autoria dos Emirados Árabes Unidos e que foi apoiada por quase uma centena de Estados-membros, foi rejeitada com um voto contra dos Estados Unidos (membro permanente, com poder de veto), 13 a favor e uma abstenção (Reino Unido).Os norte-americanos, aliados de Israel, vetaram hoje pela 35.ª vez, desde 1970, uma resolução sobre a questão israelo-palestiniana (de um total de 39), segundo a agência France Press (AFP), repetiram assim a sua rejeição a um cessar-fogo.“Não apoiamos uma resolução que apela a um cessar-fogo insustentável, que simplesmente plantará as sementes da próxima guerra”, justificou o vice-embaixador norte-americano na ONU, Robert Wood, denunciando também o “fracasso moral” da ausência de uma condenação específica no texto dos ataques de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas.Wood disse ainda que o projeto era "precipitado”, "desequilibrado e divorciado da realidade", e criticou o facto de as recomendações norte-americanas terem sido "ignoradas" durante o processo de consultas.Também a embaixadora britânica junto à ONU, Barbara Woodward, disse não poder apoiar uma resolução que não condene os ataques terroristas do grupo islamita.“Não podemos votar a favor de uma resolução que não condene as atrocidades cometidas pelo Hamas contra civis israelitas inocentes no dia 07 de outubro. Apelar a um cessar-fogo ignora o facto de o Hamas ter cometido atos de terror e ainda manter civis como reféns”, argumentou.O projeto de resolução - agora rejeitado - manifestava "grave preocupação com a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e com o sofrimento da população civil palestiniana", sublinhava que "as populações civis palestinianas e israelitas deveriam ser protegidas de acordo com o direito humanitário internacional" e exigia um cessar-fogo humanitário imediato.Exigia também a libertação imediata e incondicional de todos os reféns e a garantia de acesso humanitário.O representante dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Abshahab, lamentou que, com esta votação, "o Conselho permaneça isolado e, portanto, pareça desligado do seu próprio documento fundador"."Que mensagem estamos a transmitir aos palestinianos se não podemos unir-nos em torno de um apelo para parar o bombardeamentos e ataques incessantes em Gaza?", questionou o diplomata.A votação ocorreu depois de Guterres ter invocado na quarta-feira, pela primeira vez desde que se tornou secretário-geral, o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas, pedindo ao Conselho de Segurança, o único órgão da ONU cujas decisões têm caráter vinculativo, que "evitasse uma catástrofe humanitária" no enclave e aprovasse um cessar-fogo.Na manhã de hoje, numa reunião do Conselho de Segurança, Guterres reiterou esses apelos e explicou que invocou o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas devido ao "ponto de rutura" em Gaza, denunciando o elevado risco de "colapso total do sistema de apoio humanitário"."Existe claramente, na minha opinião, um sério risco de agravamento das ameaças existentes à manutenção da paz e da segurança internacionais", alertou Guterres, denunciando ainda que "não existe uma proteção eficaz dos civis"."Os olhos do mundo – e os olhos da história – estão a observar. É hora de agir", apelou.O líder da ONU sublinhou que, embora o lançamento indiscriminado de foguetes pelo Hamas contra Israel e a utilização de civis como escudos humanos constituam uma violação das leis da guerra, tal conduta "não absolve Israel das suas próprias violações".Apesar dos apelos de Guterres e da comunidade internacional, os Estados Unidos opuseram-se explicitamente a um cessar-fogo.“Ao continuar a fornecer armas e proteção diplomática a Israel, que está a cometer atrocidades (...), os Estados Unidos correm o risco de se tornarem cúmplices de crimes de guerra”, reagiu Louis Charbonneau, da organização não-governamental Human Rights Watch, num comunicado de imprensa.