EUA recebem Cimeira das Américas com crise migratória, violência e pobreza na agenda
5 de jun. de 2022, 09:16
— Lusa /AO Online
Crescimento económico, alterações climáticas, violência, pobreza e pandemia de covid-19 estarão "seguramente" em debate no encontro que decorre até 10 de junho na cidade californiana e reúne não só chefes de Estado e de Governo e ministros como também líderes da sociedade civil e empresários de todo o continente, indicou uma porta-voz da Casa Branca, explicando que a agenda do encontro só será divulgada quando houver uma "lista final" de países com participação confirmada.A ausência de convite aos regimes do cubano Miguel Díaz-Canel, do venezuelano Nicolás Maduro e do nicaraguense Daniel Ortega - justificada pelos Estados Unidos por não serem democracias - desencadeou polémica durante os preparativos da cimeira, fazendo com que o Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, e outros chefes de Estado latino-americanos com eles se solidarizassem.Alguns anunciaram, pura e simplesmente, que não estariam presentes, em protesto contra a atitude discriminatória do país anfitrião, ao passo que outros ameaçaram boicotar a cimeira, como López Obrador, que enviou uma carta ao Presidente norte-americano, Joe Biden, dizendo que só participaria no encontro se todos os países do continente americano fossem convidados.O Presidente mexicano indicou que aguarda ainda uma resposta da Administração Biden, mas acrescentou que, mesmo que não vá, o México estará oficialmente representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Marcelo Ebrard, e que, de qualquer maneira, "as relações com os Estados Unidos vão continuar a ser boas, porque são relações de amizade".Até agora, disseram que não se farão representar em Los Angeles a Bolívia e países da Comunidade das Caraíbas (Caricom) como São Vicente e Granadinas.Outros Estados, como Argentina, Chile e Honduras, reiteraram as críticas aos Estados Unidos, mas já tinham confirmado a sua participação e não recuaram.O chefe da diplomacia hondurenha, Eduardo Enrique Reina, representará o país na Cimeira de Los Angeles, informou neste sábado o Governo, confirmando a ausência da presidente Xiomara Castro.Também o cubano Díaz-Canel se pronunciou sobre o assunto, afirmando que não iria à cimeira mesmo que tivesse sido convidado.O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse no sábado que o país caribenho e as demais nações excluídas serão representadas na Cúpula das Américas pela "voz" do presidente da Argentina, Alberto Fernández."Parece-me muito bom que ele traga a voz da América Latina e do Caribe ao encontro das Américas (...) estaremos bem representados na voz do presidente Alberto Fernández", disse o presidente venezuelano.Já confirmaram a sua presença o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, o Presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e o chefe de Estado do Peru, Pedro Castillo.Membros do movimento da oposição nicaraguense Unidade Nacional Azul e Branco anunciaram igualmente que marcarão presença na Cimeira das Américas, bem como membros de outras organizações da diáspora e exilados - não na Cimeira de Líderes, evidentemente, nem como delegação oficial, mas em vários fóruns que decorrerão em paralelo.Em maio passado, o Governo de Biden afirmou que estava a "avaliar opções sobre como incorporar melhor as vozes dos povos cubano, venezuelano e nicaraguense" na reunião do continente americano, e ter posteriormente indicado que estariam igualmente presentes elementos da sociedade civil de Cuba e da Venezuela.Além da Cimeira de Líderes, cujo anfitrião será Joe Biden, e com o propósito de fomentar uma cimeira mais inclusiva, o Departamento de Estado organizará três fóruns oficiais de partes interessadas na cimeira: o IX Fórum da Sociedade Civil, o VI Fórum de Jovens das Américas e a IV Cimeira de CEO das Américas.Segundo informação constante do 'site' da internet sobre o encontro, "cada fórum promoverá um maior diálogo entre os chefes de Estado e de Governo e os povos e empresas das Américas para discutir os desafios e oportunidades do hemisfério, como a inclusão social, a recuperação económica, as alterações climáticas, a democracia e a transformação digital".Entretanto, uma aliança de mais de 150 organizações dos Estados Unidos e da América Latina anunciou a realização entre 08 e 10 de junho da Cimeira dos Povos pela Democracia, também em Los Angeles, em protesto contra a ausência dos temas da imigração e das minorias da Cimeira das Américas.Segundo Angélica Salas, diretora da União pelos Direitos Humanos dos Imigrantes (CHIRLA), a Cimeira dos Povos pela Democracia abordará "todos aqueles temas importantes que a cimeira presidencial deixou de fora", como os direitos dos imigrantes, das mulheres e dos trabalhadores."Não se vai falar oficialmente de imigração na Cimeira das Américas, e isso é um grande erro. Por isso, nós estamos a fazer esta cimeira, porque queremos garantir que as vozes dos imigrantes são ouvidas", sustentou.A cimeira alternativa, que decorrerá a apenas alguns quarteirões do Centro de Convenções de L.A., local que acolherá os representantes oficiais, pretende debater as preocupações com as leis da imigração - como o polémico Título 42, que permite expulsar de imediato imigrantes por razões sanitárias - e a necessidade de aprovar uma reforma migratória nos Estados Unidos, entre outras questões.A América vive uma das suas maiores crises migratórias, com centenas de milhares de pessoas a tentar entrar nos Estados Unidos para viver o "sonho americano", cada vez mais difícil devido às constantes deportações e ao perigo das fronteiras, especialmente as do México e a do Panamá com a Colômbia.