EUA ordenam investigação à violência contra haitianos na fronteira
Migrações
22 de set. de 2021, 15:38
— Lusa/AO Online
Numa
audição no Comité de Segurança Nacional da Câmara dos Representantes
norte-americana, Alejandro Mayorkas comentou fotografias polémicas sobre
os factos ocorridos no fim de semana passado próximo da localidade de
Del Rio, no estado do Texas.“[As
imagens] não refletem quem somos como país nem refletem a polícia de
fronteira”, disse Mayorkas, que descreveu a violência usada como
“desnecessária”. Numa
das imagens, um agente da polícia, a cavalo, é visto a agarrar um
migrante pela camisa, enquanto lhe acerta com o que parece ser um
chicote, fotografia tirada na margem norte-americana do Rio Grande, que
separa os Estados Unidos do México.Na
audição, Mayorkas anunciou uma “investigação rápida e contundente” e
indicou que os agentes envolvidos foram retirados das funções de
segurança relacionadas com a fronteira, passando a cumprir “tarefas
administrativas”.“Os
factos vão nortear as ações que tomaremos. Vamos até ao fim. Temos de
fazer essa investigação de forma completa, mas rapidamente. Será
concluída em dias”, acrescentou. O
Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou no sábado que iria
acelerar o ritmo de expulsões por avião de quase 15 mil migrantes, na
maioria haitianos, que se encontravam concentrados sob uma ponte no
estado do Texas.As expulsões de haitianos foram temporariamente suspensas após um terremoto que devastou seu país no mês passado. “A
grande maioria dos migrantes vai continuar a ser deportada”
imediatamente com base numa lei sobre saúde aprovada no início da
pandemia para limitar a propagação do vírus, indicou, então, o
Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos. Hoje,
Carlos Camargo, advogado colombiano com as funções de “defensor do
povo”, indicou que cerca de 19.000 migrantes, na maioria haitianos,
estão atualmente retidos na costa norte da Colômbia, aguardando a
possibilidade de atravessar a fronteira para o Panamá, com o objetivo
final de seguirem para os Estados Unidos.“No
final de uma missão de avaliação da crise migratória [...], constatamos
que, atualmente, estão cerca de 19.000 migrantes” no município de
Necocli, no departamento de Antioquia, “em trânsito para a fronteira com
o Panamá”, declarou Carlos Camargo, numa publicação na rede social
Twitter.A
Comissão da ONU para os Direitos Humanos (UNHRC) e o Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) manifestaram na
terça-feira, em comunicado conjunto, uma “profunda preocupação” com as
expulsões de migrantes haitianos e alertaram para o risco que representa
para as pessoas que podem reivindicar o direito de asilo, cujos pedidos
têm de ser obrigatoriamente examinados.“Estamos
profundamente preocupados com o facto de não ter havido um exame
individual no caso [dos cidadãos haitianos]. Talvez algumas dessas
pessoas não tenham recebido a proteção de que precisavam, disse a
porta-voz da UNHRC, Marta Hurtado.Por
sua vez, Shabia Mantoo, porta-voz do ACNUR, sublinhou no mesmo
comunicado que o pedido de asilo “é um direito humano fundamental”.Aos
problemas políticos e à insegurança que já afetavam o Haiti, juntou-se
em agosto um forte sismo que devastou o sudoeste do país, matando mais
de 2.200 pessoas.Cerca
de 650.000 pessoas, entre as quais 260.000 crianças e adolescentes,
continuam a necessitar de “ajuda humanitária de emergência”, segundo a
UNICEF.Mais
de 1,3 milhões de migrantes foram detidos na fronteira com o México
desde a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em janeiro deste ano, um
nível inédito nos últimos 20 anos.A
oposição republicana acusa há meses o Presidente Biden de ter causado
uma “crise migratória” ao aligeirar as medidas do seu antecessor, Donald
Trump, que fez do combate à imigração ilegal o seu cavalo de batalha
logo desde a primeira campanha presidencial, prometendo a construção de
um muro na fronteira com o México, e tentando, ao longo do seu mandato,
concretizar a promessa.